Para
refletir acerca do Dia 19 de abril
(dia do índio), dedico este poema a todos(as) guardiões e guardiães das águas
que percorrem os caminhos de Abya Yala (nome verdadeiro da América indígena, ou
ameríndia). O poema “Memória das águas”
faz parte da Antologia “Survival e
Sincretismo”, organizada por Carolann Madden (EUA) e outros poet’amigos
(poetas e amigos).
Na
foto, um pássaro observa o rio sem vida após o rompimento da barragem, no
distrito de Bento Rodrigues, em Mariana/MG. A imagem foi extraída do site de noticias Uol e do Google.
Saudações
indígenas,
Graça
Graúna.
Imagem: Uol e Google
Memória das
águas
I
Onde
havia abundância,
hoje
é só tristeza.
São
tantos os pesadelos
que
a mísera paisagem
se
alastra e, de norte a sul,
os
filhos da terra
ouvem
os soluços dos rios
vindos
das profundezas da terra.
II
São
tantos os rios ofendidos:
Tietê
Iguaçu
Ipojuca
Gravataí
Capibaribe
Potengi
Rio
Doce
Rio
dos Sinos
tantos
rios poluídos...
III
Que
mãe não consolaria o filho
açoitado,
explorado, excluído,
impedido
de ir e vir
no
seu direito de rio?
Exaurida
de tanto sofrimento,
a
Mãe Terra acolhe os filho
no
amalgama doloroso de água e lama,
arrastando-o,
pelo
infindável caminho da memória
para
alcançar o mar
IV
Em
nome do “progresso”
os
inimigos (obaîara)*
agridem
a natureza
derrubam
as florestas
deslocam
os rios
envenenam
as águas
destroem
os sonhos
trucidam
os filhos da terra.
V
Infindável
é a memória das águas
e
o caminho da resistência.
Dos
rios que se foram
na
contramão do progresso,
fica
a esperança de reencontrar
o
nosso lugar no mundo.
(*) obaîara:
em tupi, significa inimigo da nação.
Graça Graúna
Nordeste do Brasil, abril
indígena, 2017
Water
memory
I
Where there was plenty,
today is just sadness
there are so many nightmares
so that the miserable landscape
spreads and, from north to south,
the earth's children
hear the sobs from the rivers
coming from the depths of earth.
II
There are so many offended rivers:
Tietê
Iguaçu
Ipojuca
Gravataí
Capibaribe
Potengi
Rio Doce
Where there was plenty,
today is just sadness
there are so many nightmares
so that the miserable landscape
spreads and, from north to south,
the earth's children
hear the sobs from the rivers
coming from the depths of earth.
II
There are so many offended rivers:
Tietê
Iguaçu
Ipojuca
Gravataí
Capibaribe
Potengi
Rio Doce
Rio dos Sinos
Too many polluted rivers ...
III
Which mother would not comfort its son?
flogged, exploited, excluded,
obstructed from coming and going
in its right of being river ?
exhausted by too much suffering,
Mother Earth welcomes its children
in the painful blend of water and mud,
dragging them,
through the endless path of memory
towards the sea
IV
In the name of "progress"
the enemies (obaîara)*
attack nature
knock down the forests
move the rivers
poison the waters
destroy the dreams
slaughter the earth's children
V
Endless is the memory of waters
and the path of resistance
from the missing rivers
on the contraflow of progress,
remain the hope of rediscovering
our place in the world.
(*) Obaîara: in Tupi, it means enemy of the nation.
Too many polluted rivers ...
III
Which mother would not comfort its son?
flogged, exploited, excluded,
obstructed from coming and going
in its right of being river ?
exhausted by too much suffering,
Mother Earth welcomes its children
in the painful blend of water and mud,
dragging them,
through the endless path of memory
towards the sea
IV
In the name of "progress"
the enemies (obaîara)*
attack nature
knock down the forests
move the rivers
poison the waters
destroy the dreams
slaughter the earth's children
V
Endless is the memory of waters
and the path of resistance
from the missing rivers
on the contraflow of progress,
remain the hope of rediscovering
our place in the world.
(*) Obaîara: in Tupi, it means enemy of the nation.
Graça Graúna
Nordeste do Brasil, abril indígena, 2017
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