Grupo Fehtxa Fulni-ô
Fonte:
Marcelo Manzatti , Clipping da 6ª CCR do MPF e Gazeta de Alagoas (Patricia bastos - reporter)
Idioma Yaathe é ensinado na escola da tribo desde o Ensino Infantil
Águas Belas (PE) – Apesar de viverem a uma pequena distância de Alagoas, os índios Fulni-Ô, de Águas Belas, em Pernambuco, vivem uma realidade muito diferente das tribos indígenas alagoanas, que ainda lutam pela demarcação das terras e em alguns casos até para serem reconhecidas. A aldeia Fulni-Ô fica ligada à cidade e em quase nada lembra as imagens de tribos indígenas que costumam ser retratadas na televisão.
Mas mesmo vivendo em casas de alvenaria, muitos estudando ou trabalhando fora, os Fulni-Ô mantém a identidade indígena. Durante três meses do ano eles realizam o Ouricuri, ritual sagrado, que é feito em outra parte da aldeia e as crianças, desde muito pequenas, são acostumadas com os rituais e as danças da tribo, mesmo através de gravações de vídeo. Além disso, o idioma Yaathe é ensinado na escola da tribo desde o Ensino Infantil. De acordo com os próprios índios, nenhuma outra tribo de Pernambuco mantém seu idioma original. “Sou capaz de fazer o que você faz e ser o que você é, mas você jamais poderá ser o que sou”, resume o índio Wilmer Correia Casemiro, formado em Direito e que exerce advocacia na cidade. Assim como ele, muitos filhos da nação Fulni-Ô deixam a tribo para fazer faculdade. Mas após completar os estudos, todos voltam para sua “terra-mãe”.
Relação com homem branco em estado de tensão
Águas Belas (PE) – A harmonia entre os habitantes da tribo Fulni-Ô, contudo, praticamente acaba quando se fala sobre relação dos índios com a vida fora da aldeia. A filha do cacique, Maristela de Albuquerque Santos, coordenadora-geral da escola indígena Fulni-Ô, afirma que o relacionamento entre a tribo e a cidade está em constante estado de tensão.
“Os prefeitos que passaram por Águas Belas sempre usaram o índio para justificar a inoperância deles. Eles dizem que não podem trabalhar para fazer a cidade crescer por nossa culpa, porque a gente não deixa. Mas isso não é verdade. Antes das eleições, todos os candidatos vêm até a aldeia fazer promessas e dizem que vão trabalhar em harmonia com a tribo. Depois da eleição, eles esquecem tudo”, reclama.
Esse constante estado de tensão se deve tanto ao preconceito contra os índios, quando à questão da terra.
O “Anjo das pernas tortas” saiu da tribo Fulni-Ô Águas Belas (PE) – Além de falar sobre a bravura dos antepassados na Guerra do Paraguai e na luta contra os coronéis na região, os Fulni-Ô se orgulham também de um indígena saído da tribo, cujo nome ficou conhecido internacionalmente no futebol: Mané Garrincha. “Muita gente ainda acredita que o Garrincha nasceu na periferia do Rio de Janeiro, só a partir da biografia do escritor Ruy Castro é que as pessoas passaram a acreditar que o “Anjo das Pernas Tortas” era Fulni-Ô”, afirma o índio Clodomiro Tafkeá. Ele conta que o menino Manoel dos Santos viveu na tribo até os 11 anos de idade e foi embora com a família para o Rio de Janeiro, num carro de boi, em busca de melhores condições de vida.
Eles ganham o mercado de trabalho na cidade
Águas Belas (PE) – Enquanto outros indígenas não ficam conhecidos no futebol, outros jovens Fulni-Ô buscam outras áreas de trabalho dominadas pelos “não-índios”. Entre os moradores da aldeia de Águas Belas há professores com curso superior, advogado, administradora de empresa, fisioterapeuta, entre outros. Há também muitos jovens estudando em escolas técnicas em regime de internato e cursando universidades públicas em Recife.
“A gente faz isso por uma questão de sobrevivência. Não há condições dos índios viverem como antigamente, já faz muito tempo que não há mais caça nessa região, e o rio agora existe apenas durante alguns meses do ano. Para sobreviver, precisa deixar a sua aldeia para aprender a profissão do branco”, justifica o advogado Wilmer Correia Casemiro.
Imagem disponível em:
http://festivalcocodetore.blogspot.com