Direito Autoral

Desrespeitar os direitos autorais é crime previsto na Lei 9610/98.

31 março 2008

ME: Fênix da poesia invencível


A história da literatura escrita por mulheres no Brasil parece uma verdadeira colcha de retalhos: alguns de feição belorizontina, outros de matiz nordestina, outra parte vinda do Sul, Sudeste e do Centro Oeste e de muitos lugares, também fora do Brasil.
Com este espírito surgiu em Belo Horizonte (MG), no ano de 1989, o movimento de mulheres escritoras; movimento este liderado por Tânia Diniz: poeta, contista, editora e responsável pela criação do Mural Poético Mulheres Emergentes – o sensual em cartaz – ou M.E, como é conhecido no meio literário, especialmente no campo das chamadas edições alternativas.
Rompendo cerco da ausência de patrocínio para publicar com poesia e tenacidade cada edição com tiragem de mil exemplares, o M.E configura um espaço aberto; um lugar de diálogo, um espaço pioneiro onde autoras e autores são publicados, especialmente pela qualidade literária, como diz a própria editora Tânia Diniz. Entre os autores convidados, destaca-se Carlos Nejar: poeta, ficcionista, critico, membro da Academia Brasileira de Letras e natural do Rio Grande do Sul. Com o Suplemento Especial do M.E, número 27, de 1996, os(as) leitores(as) de Mulheres Emergentes conhecem o talento de Nejar com alguns de seus poemas extraídos da obra Elza dos Pássaros ou a ordem dos Planetas.
Em sua trajetória, o M.E cumpriu seus objetivos divulgando a poesia em escolas de todos os níveis, em bibliotecas, congressos, feiras, exposições dentro e fora do país, e em dar espaço a poetas novos(as) ao lado de nomes consagrados a exemplo de Antonio Risério (BA) que aparece no suplemento 31, em 1997. No oitavo ano de sua edição, lutando contra a falta de patrocínio, contra preconceitos, falsidades e sabotagens o M.E superou os obstáculos e em 98, o suplemento 32 divulgou o fazer poético de mais quinze colaboradores(as), confirmando os ensinamentos de velho Quintana:

Todos esses que aí estão
atravancando o meu caminho,
eles passarão...
eu passarinho!

Em 1998, o suplemento M.E fala do calor de tantas águas de março e nesse ritmo, a editora Tânia Diniz mostra seu fôlego e resistência que se multiplica em mais mil exemplares do “sensual em cartaz” para refletir o dia 8 de março, Dia Internacional da Mulher, com as contribuições de Marina Colassanti (RJ), Myriam Fraga (BA), Susana Cataneo (Argentina), Carlos António Bengui (Angola), Fábio Weintraub (SP) e, entre outros(as), Luiz Alberto P. Kuchenbecker (PR) autor do seguinte poema:

Beijar você
é no fundo no fundo
bater com a língua nos dentes
botar a boca no mundo


Ainda em 1989, já comemorando seus dez anos, o ME dedica uma edição especial ao haikai ou haicai: um tipo de poema japonês do século XVII que tem em Matsuo Bashô a grande expressão poética do seu tempo. O suplemento 35 traz uma mostra de haikais de autores(as) brasileiros(as) e latinoamericanos, entre os quais: Octavio Paz (México), Victor Sanchez Montenegro (Colômbia) Santiago Risso (Peru), Teruko Oda (SP), Pablo Neruda (Chile), Flavio Herrera (Guatemala), Milor Fernandes (RJ), Yeda Prates Bernis e Wilmar Silva (MG) e haikais japoneses traduzidos por Olga Savary (RJ).
Em seu décimo ano (1999), o M.E fez um tributo ao poeta José Paulo Paes e em meio ao intenso clima poético em Belo Horizonte, com a Bienal Internacional da Poesia, o M.E se multiplicou na exposição dos seus murais pelas estações do metrô da cidade. O suplemento 37 e 38 brindam as mulheres emersas, emergentes ou por emergir; brindam o leitor, a leitora no décimo ano de existência e comemorações, pelo bem do planeta e dos homens, como sugere este fragmento do poema Romance, de Thiago de Melo, no suplemento 38:


[...]
Que te cante a paz no peito
Não é benção para mim,
que perto estou já do fim.
Te quero tanto, que tanto

Dentro de ti me perdi.
Só por sonhar que erga vôo
de pássaro prisioneiro
a luz que lateja em ti.


O M.E inaugura o ano 2000 dedicando seu número 40 ao talento poético da mineira de Cataguases, Maria do Carmo Ferreira - Carminha, com destaque a alguns de seus poemas publicados entre 1969-1999. Ainda no ano 2000, o ME publica o talento dos que participaram do Terceiro Concurso Internacional de Poesia. Em 2001, mais uma vez o ME teve um round perdido e apesar da falta de incentivo conseguiu, assim mesmo, levar ao público cinco números (do 44 ao 48) em um único suplemento, mas “caminhando com orgulho e alegria na tortuosa senda” do fazer poético. Em 2002, ao completar treze anos, o ME mostra-se, mais uma vez, embalado pela espera de que dias melhores virão, e tocado pela irreparável perda de um irmão das letras que virou estrela em 21 de junho daquele mesmo ano: Roberto Drummond, o autor de Hilda Furacão.
Com poemas, contos e ilustrações, a Antologia M.E 18 conta com apresentação de Leila Miccolis (Blocos on-line/RJ) e Constancia Lima Duarte (Ufmg/BH). Na opinião de Leila: “por tantas e todas essas diferenças, Mulheres Emergentes se distingue, se sobressai no panorama cultural do país nesses dezoito anos de atividades, oferecendo a doçura de seus belos frutos e o abrigo de sua frondosa copa à Árvore do Saber”.
O nome Mulheres Emergente é uma alusão ao livro de Natalie Rogers, uma conhecida psicoterapeuta americana; um livro que figurou entre os mais sucedidos na década de oitenta. Para Constância Duarte, a psicoterapeuta acreditava no poder da manifestação artística como parte do processo terapêutico e que sua obra promovia o auto-conhecimento por meio da liberação criativa e emocional. Nesta perspectiva, Constância comenta:

foi bem isso que Tânia Diniz realizou através das edições do ME. Ao estampar – em alto e bom som – tantas promessas literárias, tantas confissões da intimidade, o Mulheres Emergentes consolidou a auto-estima de jovens poetas, e liberou, pela verbalização, muito da sensualidade feminina.

Esta vertente da literatura brasileira chamada Mulheres Emergentes – Edições Alternativas - traduz-se num constante garimpo e trabalho aglutinador que reúne também vozes masculinas que se achegam para cantar o seu lado feminino, “para melhor louvá-las e conviver”. Por tudo isso, Tânia Diniz comemora os dezoito anos de seu mural poético com vários projetos, a exemplo do mais recente que é a Antologia ME 18. Brindemos então à maioridade literária do M.E, aos autores e autoras que fazem parte dessa história: Silvia Anspach, Bárbara Lia, Lúcia Serra, Vera Casa Nova, Teruko Oda, Iara Vieira, Johnny Batista Guimarães, Hugo Pontes, Adão Ventura, Eliane Accioly Fonseca, Graça Graúna e Sandro Starling, entre outros. Na Antologia ME 18, um fato inédito; a presença de três filhas e suas respectivas mães que se juntam no oficio da escrita. Nas palavras de Tânia, trata-se de:

Raquel Naveira e sua Letícia, Elza R. Amaral e sua Beatriz, e eu mesma, Tânia Diniz, e minha amada Ana Carol, a primogênita, que começa a se aventurar nos minicontos. Outra coisa, é o fato de mostrar a diversidade do ME e assim teremos poemas, pequenos contos e ilustrações.E uma amostra mínima , do mapa nacional e internacional, de onde circula nossa poesia ME! Então, maioridade conquistada, um brinde 'a longa estrada que se descortina!

Enquanto eu burilava este artigo, recebi uma comunicação de Tânia Diniz, confirmando que o ME – “o sensual em cartaz” – está no forno; daqui um pouco sai. Claro, o espetáculo deve continuar. Agora, depois da antologia, seguramente, o ME retorna, fênix da poesia invencível, diz Tânia em comunicação pessoal. Assim, caminha a edição alternativa ME e é nesse ritmo que a sua idealizadora mostra tanto entusiasmo, ao ver que essa colcha de retalhos, isto é, que esta vertente da literatura brasileira foi se formando em meio ao desejo de cada autora e de cada autor se fazer presente, de ousar, de mostrar e dizer seus receios por meio da escrita.

Graça Graúna, Nordeste do Brasil

25 março 2008

Da nossa ancestralidade indígena e africana


Ilustração: Brasilia Morena
Esta foi a maneira que encontrei para agradecer ao poeta Geraldo Maia (BA) as suas boas palavras acerca da troca de saberes, fundamental na missão de garantir os direitos pela liberdade de expressão, sempre.
...oh, Nhande Rú, quanta responsabilidade ser mencionada em meio a grandes pensadores, nordestinos, brasileiros, latinos; em meio a grandes nomes de educadores do quilate de Paulo Freire e tantos outros!

...oh, Nhande Rú, não sei mesmo onde e como colocar as palavras que eu preciso, careço dizer e não consigo, tão grande é a minha alegria e tão grande é o medo também que sinto diante dessa responsabilidade estampada na reflexão “Que fronteiras?*”, do poetamigo Geraldo Maia!

...oh Nhande Rú eu sei que sou uma de suas criaturas e no momento tudo que me fica é essa esta vontade enorme de pronunciar os nomes todos que me guiam e que para mim são um mantra, nomes dos meus irmãos e irmãs de luta, nomes que você foi juntando ao meu pra aumentar o circulo da nossa resistência porque todos nós carecemos estar juntos para fazer pulsar os corações, as mentes na luta pela justiça social.

...oh, Nhande Rú é assustador e ao mesmo tempo gratificante ter a possibilidade de abertamente, assim, estampar a alegria que estou sentindo neste momento; um momento que não é só meu, um momento que não é estático porque o que vem de você e de Pacha Mama é algo mais forte do que a mente comum pode imaginar!

...oh Nhande Ru é tão bom ter o privilegio de cantar um mantra tecido em cada nome e sonhos dos meus irmãos e irmãs de diferentes etnias, meus irmãos e irmãs dos cadernos negros, da literatura indígena: Ubiratan Castro, Makota Valdina, Vanda Machado, Mãe Stella, Juvenal Payayá, Katão Pataxó, Fernando Conceição, Jerry Matalawé, Lande Onawale, José Carlos Limeira, Hamiltom Borges, Sérgio São Bernardo, Godi, Wakay, só alguns dos grandes nomes (como diz o Maia), e Abdias Nascimento, Cuti, Oswaldo de Camargo, Eliana Potiguara, Kaká Verá, Olívio Jecupé, Ferréz, Ele Semog, grande Geraldo Maia, Daniel Munduruku, Heitor Kaiová, Ademario Ribeiro,  Esmeralda Ribeiro, Geraldo Potiguar do Nascimento, Gilia Gerling, só alguns dos grandes pensadores da terra, do ar, das águas deste espaço inquietante chamado Brasil e que pode e deve ainda ser tratado dignamente como Pindorama.

...oh, Nhande Rú nde re re! Os nomes que eu não citei, por favor, entenda, estão todos do lado esquerdo do meu peito mas neste instante, tomada pelo contentamento peço por todos aqueles e aquelas que me ajudam a ser como sou; um ser avuante meio perdido nesse universo de alegria e dor. Ai, Nhande Rú nde re re! Gracias a la vida, não mereço tanto.


Graça Graúna, Nordeste do Brasil.


(*)Nota:
QUE FRONTEIRAS?

Autoria: Geraldo Maia

Segundo o grande mestre Paulo Freire "ensinar não é transferir conhecimento, mas criar possibilidades para a suja produção ou a sua construção". Pena que isso ainda não chegou à maioria das escolas e universidades desconectadas da realidade de seu mundo concreto. Na grande maioria de encontros, seminários, colóquios, congressos que pude assistir a maioria dos intelectuais convidados, quase todos doutores e mestres renomados revelaram-se domesticados ao texto do qual buscam apenas a inteligência dos autores sem ambição alguma de tornarem-se sujeitos da compreensão do que lêem, temerosos de arriscarem algo pessoal, criativo e relacionado com o que vem ocorrendo desde a sua própria realidade.
E o pior: a referência maior onde se sentem seguros ainda é a do invasor/colonizador . Vivem no Brasil, mas trazem nos seus discursos apenas a visão e o pensamento do mundo greco-romano, europeu e norte-americano. Tal comportamento fez com que se criasse uma Lei (Lei 10.639/03) obrigando o ensino da história e da cultura africana em todo o país, e mais recentemente a Lei 11.645, de 10 de março de 2008 que inclui o ensino obrigatório da História e Cultura Indígena.
Se não, continuaríamos a ter como único referencial de pensamento filosófico, de visão de mundo, de modo de pensar, sentir, fazer e espiritualizar- se, o modelo eurocêntrico e norteamericanizado. Um claro sintoma disso é o projeto cultural Fronteiras Brasken do Pensamento, que segundo o vice-presidente de Relações Institucionais da Brasken, Marcelo Lira, "proporciona à sociedade baiana a oportunidade de compartilhar idéias e obras de grandes pensadores mundiais" e, segundo ele, ´"é importante para a auto-estima da inteligência baiana".
Mas que fronteiras? Como elevar a auto-estima excluindo a contribuição local? Para cada pensador e artista "mundial" de outras nações, deveria ter pelo menos dois ou três "mundiais" locais. Aí, sim, o intercâmbio, o debate, a troca de saberes, a quebra de fronteiras. Nós somos "mundiais" também. Os grandes pensadores que conheço e que no momento interessam à construção do nosso conhecimento, do nosso pensamento, dos nossos saberes, não moram na europa e nos estados unidos, mas aqui mesmo, na Bahia e no Brasil. E na américa latina. Posso citar alguns deles: Ubiratan Castro, Makota Valdina, Vanda Machado, Mãe Stella, Juvenal Payayá, Katão Pataxó, Fernando Conceição, Jerry Matalawé, Lande Onawale, José Carlos Limeira, Hamiltom Borges, Sérgio São Bernardo, Godi, Wakay, só alguns dos grandes da Bahia, e Abdias Nascimento, Cuti, Oswaldo de Camargo, Eliana Potiguara, Kaká Verá, Olívio Jecupé, Ferréz, Ele Semog, Graça Graúna, só alguns dos grandes pensadores do Brasil.
Nós que vivemos quinhentos anos acachapados pela cultura, pela arte, pela visão de mundo e pelo pensamento europeu e norte-americano, precisamos investir, e muito, no nosso processo de descolonização e afirmação e valorização da nossa ancestralidade indígena e africana. Aí sim se estará contribuindo para elevar a auto-estima da inteligência baiana, mais de oitenta por cento negra e índia.
Geraldo Maia
Poeta e doutor honoris causa pela Uni American Universidade Corporativa das Américas. 71 8219-5934

21 março 2008

Tempo de Páscoa




Revirando os antigos papeis, o meu filho Fabiano encontrou este belo cartão assinado também por Ana e Agnes (minhas filhas). É tempo de Páscoa!

17 março 2008

Antologia ME 18


Cá estou entre as autoras de mais uma antologia organizada por Tania Diniz. O prefácio é da poetamiga Leila Miccolis, co-editora do site Blocos - portal de literatura. O lançamento acontece em Belô - MG.

ana carol / auxiliadora de carvalho lago / andreia donadon leal - mariana, mg / beatriz amaral -sp / brenda mars - brasília, df / clevane pessoa de araújo / conceição parreiras abritta / dagmar braga / débora novaes de castro - sp / djanira pio-sp / daris araújo - m claros-mg / edinéia alves/ eliane accioly fonseca - sp / elizabeth gontijo / elza ramos amaral - sp / france gripp / graça graúna-recife-pe / graça rios / iara alves / ivete walty / karina araújo campos / leticia naveira - sp / liria porto / lívia tucci / lúcia daniel-paris-frança / lúcia serra / maria lourdes hortas-recife - pe / marina silva / micheline lage- timóteo-mg / mônica anspach - sp / nazareth fonseca / neuza ladeira / raquel naveira - sp / regina mello / silvana pagano / silvia anspach-sp / simone neves / stella machado-juiz de fora-mg / tânia diniz / tânia pagano / vera casa nova

11 março 2008

Quilombhoje: três décadas de literatura


CARTA-CONVITE

SEMINÁRIO
CADERNOS NEGROS TRÊS DÉCADAS
LITERATURA, ESCOLA & CULTURA


São Paulo, 27 de fevereiro de 2008


Prezada Escritora e Professora Graça Graúna (Maria das Graças Ferreira)

Em 2007 a série "Cadernos Negros" completou trinta anos de publicação ininterrupta, um marco na história do movimento negro brasileiro, haja vista o pioneirismo e resistência dessa série.

A coletânea já reuniu mais de 100 autores, entre homens e mulheres de todas as partes do Brasil e, no volume lançado mais recentemente, Cadernos Negros número 30, contou, pela primeira vez, com a participação de um escritor de Angola.

E é para celebrar tais conquistas que o Quilombhoje Literatura tem o prazer de convidá-la para participar do seminário "Cadernos Negros Três Décadas – Literatura, Escola & Cultura", que se realizará no dia 15/03/2008, das 9h às 18h.

Este seminário será dirigido a professores, pesquisadores e interessados em geral; e será seguido do evento de lançamento da edição especial "Cadernos Negros Três Décadas". Estamos convidando você para participar do evento como autor do livro.