Álvaro Tukano e Moura Tukano na Feira do Livro Indígena, em Mato Grosso.
Ontem, dia 3 de
agosto, em Manaus(AM), o coração do guerreiro Moura Tukano silenciou. Nós ficamos/estamos sem jeito, sem o seu sorriso
largo.
O cidadão Manuel
Fernandes Moura também se chamava Ahkëto, que significa líder responsável pelas
danças e cerimônias sagradas. Filho do povo Tukano ou Yepamansã, o guerreiro Moura
presidiu a Federação Indígena pela Unificação e Paz Mundial. Agora, ele está
habitando entre os encantados, rodeado de eternos e sagrados cantos.
A saudade que eu
tenho de Moura é bem grande e a cada vez se alastra, desde os encontros de
Escritores Indígenas no Rio de Janeiros, em Manaus, em Mato Grosso e noutras paragens
onde Ñanderu permitiu que nós indígenas mostrássemos a nossa luta para não
perder a nossa cultura, a nossa família, a nossa vida, a nossa história de
tradição milenar.
Não me esquecerei do
parente amigo Moura, do pensador que um dia conduziu outros parentes a
prestigiar uma palestra minha na Academia Brasileira de Letras (ABL); só
comecei a falar, quando o vi entrar acompanhado de outros parentes, olhando
para mim com firmeza e um sorriso largo.
Uma das gratas
recordações que eu tenho do Moura remete ao encontro que reuniu dezenas de
escritores e artistas de diferentes etnias na I Feira do Livro Indígena, em
Mato Grosso. Ao lado de outro líder indígena (Álvaro Tukano), o guerreiro Moura
conduziu a cerimônia de abertura do evento, numa grande oca construída para
acolher indígenas e não indígenas participantes do evento.
Tenho saudades de
Moura. Guardarei os seus ensinamentos. Aqui,
destaco parte das respostas que gentilmente ele respondeu as questões
relacionadas ao meu estudo sobre a lei 11645/08. Dezenas de parentes indígenas também
colaboraram com a minha pesquisa, durante o meu estágio na Umesp, em 2011. A
respeito dos desafios e perspectivas para o ensino da história e da cultura indígena,
Moura ressaltou, entre outros aspectos, que a referida Lei:
vai despertar
nos alunos a curiosidade de conhecer o processo de formação das culturas e
sociedades indígenas, a educação real imposta aos brasileiros e desvendar a
perversa trajetória da vida e história da sobrevivência do índio (...); que
deve haver um novo início e uma nova formação da sociedade humana, mais justa
no Brasil e na América Latina. (Cf. Revista Educação e Linguagem, Umesp, 2011,
n.23/24).
Em nossa conversa, em
2011, Moura lamentou o fato de nós indígenas sermos vistos como selvagens,
incapazes, preguiçosos, feiticeiros, diabólicos, atrasados, dementes e – como
se não bastasse – rotulados também de empecilhos
para o progresso do Brasil.
Ontem, dia 3 de
agosto, ao buscarmos consolo em meio a saudade que sentimos do Moura Tukano, o
parente Ademario Ribeiro (etnia payaya), por e-mail, comentou:
Grão... em poucas palavras, leia o
que nos enviou a Verônica há 7 minutos: "Confirmo que o coração do meu amado esposo parou ao meio dia, horário de Manaus. O corpo está velado na capela São Francisco da Cachoeirinha".
Que Nanderu Lhe e nos acolha!
Nordeste do
Brasil, 4 de agosto de 2014
Graça Graúna