Imagem extraída do Google
“No momento da tua renúncia
estende sobre a vida os teus olhos
e tu
verás o que vias: mas tu verás melhor...
e tudo que era efêmero se desfez.
E ficaste só tu, que és eterno” (Cecília Meireles)
A intimidade de Cecília Meireles (n.1901+1964) com a morte
começou desde cedo. Ainda criança, aos três meses, perdeu o pai. Aos três anos de
idade, perdeu a mãe. O sentimento de transitoriedade moldou a sua
personalidade, a ponto de perceber algo de positivo na solidão e no silêncio
como sugere a profundidade da sua poesia. Em novembro, os fiéis leitores
recordarão os 50 anos da morte da mulher que escreveu o Romanceiro da Inconfidência. Mas a poesia não morre, de tal forma que Cecília
continuará nos cobrindo com o seu raio de luz; com os motivos que lhe fizeram
poeta e pudesse cantar com suavidade e senso crítico os instantes; cada instante a nos lembrar, também, que
por meio da poesia o ser humano pode tornar o mundo melhor, sem temer a necessária liberdade
de expressão para externar as vontades e sentires que nos faz sentir mais vivos e, desse modo, (possivelmente nessa ordem) respeitar, amar
e desejar o outro em todas as circunstâncias. (Graça Graúna).
Eu não tinha este rosto de hoje,
assim calmo, assim triste, assim magro,
nem estes olhos tão vazios,
nem o lábio amargo.
assim calmo, assim triste, assim magro,
nem estes olhos tão vazios,
nem o lábio amargo.
Eu não tinha estas mãos sem força,
tão paradas e frias e mortas;
eu não tinha este coração
que nem se mostra.
Eu não dei por esta mudança,
tão simples, tão certa, tão fácil:
- Em que espelho ficou perdida
a minha face?
tão paradas e frias e mortas;
eu não tinha este coração
que nem se mostra.
Eu não dei por esta mudança,
tão simples, tão certa, tão fácil:
- Em que espelho ficou perdida
a minha face?
Cecília Meireles, Antologia Poética. Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 2001.
Nenhum comentário:
Postar um comentário