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18 agosto 2014

O sentimento de transitoriedade em Cecília Meireles

Imagem extraída do Google


“No momento da tua renúncia 
estende sobre a vida os teus olhos 
e tu verás o que vias: mas tu verás melhor... 
e tudo que era efêmero se desfez. 
E ficaste só tu, que és eterno” (Cecília Meireles)


A intimidade de Cecília Meireles (n.1901+1964) com a morte começou desde cedo. Ainda criança, aos três meses, perdeu o pai. Aos três anos de idade, perdeu a mãe. O sentimento de transitoriedade moldou a sua personalidade, a ponto de perceber algo de positivo na solidão e no silêncio como sugere a profundidade da sua poesia. Em novembro, os fiéis leitores recordarão os 50 anos da morte da mulher que escreveu o Romanceiro da Inconfidência. Mas a poesia não morre, de tal forma que Cecília continuará nos cobrindo com o seu raio de luz; com os motivos que lhe fizeram poeta e pudesse cantar com suavidade e senso crítico os instantes; cada instante a nos lembrar, também, que por meio da poesia o ser humano pode tornar o mundo melhor, sem temer a necessária liberdade de expressão para externar as vontades e sentires que nos faz sentir mais vivos e, desse modo, (possivelmente nessa ordem) respeitar, amar e desejar o outro em todas as circunstâncias. (Graça Graúna).


 Retrato


Eu não tinha este rosto de hoje, 
assim calmo, assim triste, assim magro, 
nem estes olhos tão vazios, 
nem o lábio amargo.

Eu não tinha estas mãos sem força, 
tão paradas e frias e mortas; 
eu não tinha este coração 
que nem se mostra. 

Eu não dei por esta mudança, 
tão simples, tão certa, tão fácil: 
- Em que 
espelho ficou perdida 
a minha face?



Cecília Meireles, Antologia Poética. Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 2001.

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