Mulheres indígenas em Mato Grosso. Foto de Cíntia Barenho
O pesquisador e poeta Leandro Faustino Polastrini comanda o Poesia Versos e Cordas
desta quarta, explorando uma literatura diferenciada
desta quarta, explorando uma literatura diferenciada
Claudio de Oliveira
Da Reportagem
A literatura indígena nasceu e em grande parte mantém-se na oralidade. Apesar disso, mesmo em aldeias afastadas o processo de memória já chegou aos meios escritos e audiovisuais. Taí o filme da Glorinha Albues que não me deixa mentir, especialmente com uma equipe indígena que conhecia mais países que a maioria da classe A brasileira.
Recentemente tivemos aqui em Cuiabá a Feira do livro Indígena, uma iniciativa louvável e corajosa que trouxe à Cidade Verde, entre outros, Daniel Munduruku, renomado estudioso e autor de inúmeros livros.
Hoje, a memória ancestral indígena com toda a sua sensibilidade e vocação para as verdades atemporais sobe ao palco do SESC Arsenal com o projeto Poesia, Versos e Cordas “Idigianidade”.
Ser ou não Ser? É o ponto de encontro entre o teatro e a poesia, entre o branco e o índio na visão e pesquisa de Leandro Faustino Polastrini. O pesquisador, que também é poeta e foi premiado recentemente pela editora da UFMT com o poema “Auto-memória”, faz as vezes de ator/leitor apresenta a poesia indígena criando um diálogo entre os escritores indígenas com o público, desde estudantes, até o mais apaixonado pelas artes da poesia e do teatro.
O tema proposto reúne leituras dos poemas de Eliane Potiguara, Carlos Tiago e Graça Graúna, que gritam à identidade do índio brasileiro. Idigianidade é um chamado em busca de resgatar e manter viva a ancestralidade do ser indígena, enfim do povo brasileiro.
Graça Graúna é natural do Rio Grande do Norte e tem doutorado em letras pela (UFPE). Em uma apresentação sua ao universo indígena expõe com inequívoca propriedade: “A literatura indígena é um lugar de confluência de vozes silenciadas e exiladas ao longo da história há mais de 500 anos. Enraizada nas origens, esse instrumento de luta e sobrevivência vem se preservando na autohistória de escritores(as) indígenas e descendentes e na recepção de um público diferenciado, isto é, uma minoria que semeia outras leituras possíveis no universo de poemas e prosas autóctones.” Graça participa ativamente do Overmundo e tem um blog próprio: http://ggrauna.blogspot.com/ onde apresenta suas ideias.
Elaine Potiguara que também fez parte do estudo da Graça tem um livro lançado de poesia indígena “Metade cara, metade máscara” lançado pela editora Palavra de Índio do internacionalmente premiado Daniel Munduruku citado acima. Potiguara fundou o GRUMIN - atual Rede de Comunicação Indígena sobre Gênero e Direitos.
Carlos Tiago, um jovem poeta Saterê Mawê, do Estado do Amazonas. Tiago é natural de Barreirinha(AM). É formado em Biblioteconomia pela UFAM e autor dos livros Águas do Andirá (poesia), Petrópolis e a Cidade de Pedro (história), A Quinta Estação (antologia poética) e Antopologia Poética dos Escritores Indígenas. Foi um dos vencedores do Prêmio Valores da Terra, da Prefeitura de Manaus (2002), do Prêmio Historiador Mário Ypiranga Monteiro (2008), da Academia Amazonense de letras. É fundador do CLAM - Clube Literário do Amazonas. Também possui um blog: carlostiagopoesiaepoesia.blogspot.com/.
...fragmento que sou
da fúria no choque cultural,
aqui, manifesto o meu receio
de não conhecer mais de perto
o que ainda resta
do cheiro da mata
da água
do fogo
da terra e do ar
Torno a dizer:
manifesto o meu receio
de não conhecer mais de perto
o cheiro da minha aldeia
onde ainda cunhantã
aprendi a ler a terra
sangrando por dentro
(Graça Graúna )
SERVIÇO
O QUE: Espetáculo Idigianidade
ONDE: Sesc Arsenal
QUANDO: 25/08, quarta, às 15 e 20 horas
QUANTO: grátis
Fonte: http://www.diariodecuiaba.com.br/detalhe.php?cod=377732