Armando Romanelli (1945)
Dom Quixote e os Moinhos – A.S.T. – 100 x 100 cm - 2005
(imagem extraída do Google)
Dom Quixote e os Moinhos – A.S.T. – 100 x 100 cm - 2005
(imagem extraída do Google)
por Daniel Munduruku
Abril
costuma ser um mês bastante importante para a divulgação da questão indígena em
terras brasileiras (antes dir-se-ia: em terras Tupinikim). Eventos ocorrem em
todos os quadrantes para lembrar à sociedade que aqui sobrevivem teimosamente
250 povos tradicionais, falantes de aproximadamente 180 línguas e que ocupam
13% do território nacional. Foram eventos políticos, culturais ou educativos
necessários para se quebrar estereótipos e conceitos preconcebidos que já
perduram há centenas de anos na cabeça do brasileiro.
Não
à toa a mídia ocupou parte de seu horário para falar sobre o tema. Nem sempre
boas notícias. Ou melhor, quase nunca. A sociedade brasileira foi bombardeada
por inúmeras notícias parciais sobre invasões de terras ou prédios públicos por
parte dos indígenas. As versões eram sempre das “vítimas” consultadas.
Raramente a palavra era dada aos “invasores” reforçando a falsa idéia de que os
“índios” são baderneiros, violentos, insensíveis.
Xingu foi uma rara exceção nos
noticiários. Todos exaltaram as qualidades do filme que retrata a saga dos
irmãos Villas-Boas, autênticos heróis contemporâneos. O filme, parece, não
decolou para o desespero de seus produtores. Impressão ruim de que “os brasileiros não gostam de índio”,
como afirmava Darcy Ribeiro. Nem todos, penso eu. Tenho alguma esperança. Parte
dela me é dada pela literatura.
Dentro
do universo da literatura – que nos interessa aqui – os eventos realizados
durante abril e começo de maio nos reforçam a esperança de que estamos num
caminho que pode fazer mudar este quadro pintado pela história colonial
brasileira e reproduzido pela imprensa.
Desde
o começo do mês realizamos uma caravana literária, batizada Mekukradjá, palavra da língua Kaiapó que
quer dizer transmissão de saberes. É um projeto que já tem estrada, pois
começou no ano de 2011 e promete seguir adiante. Naquele ano passou por Manaus/AM,
Cananéia/SP e Peruíbe/SP, graças ao apoio da Funarte através da saudosa bolsa
de difusão literária. Este ano – graças ao apoio incondicional do Instituto
C&A – passou pela cidade de Lorena, interior de São Paulo e Rio
de Janeiro, onde juntou-se ao Salão FNLIJ de Livros para Crianças e Jovens e
ali organizou o 9º. Encontro de Escritores e Artistas Indígenas; organizou, na
UERJ, exposição de obras de artistas indígenas do Amazonas e Roraima; dialogou
com estudantes da PUC/RJ; palestrou para imortais da ABL através da fala da
indígena potiguara Graça Graúna; banqueteou-se através do sarau lítero-musical
nos jardins da Biblioteca Nacional; falou das linguagens literárias na Escola
de Cinema Darcy Ribeiro e finalizou
realizando o “1º. Caxiri na Cuia –
Colóquios sobre Literatura Indígena” em parceria com a Universidade Federal
de São Carlos através do Grupo de Pesquisa Linguagens, Etnicidades e Estilos em
Transição, coordenado pela professora Maria Silvia Cintra Martins.
Foram, portanto, eventos que atingiram crianças, jovens, educadores,
acadêmicos, universitários e o público em geral. Foram momentos emocionantes e
esperançosos para todos nós.
Além
dessas ações que foram organizadas e protagonizadas pelos próprios indígenas –
tentativa sempre louvável de ser fazer ouvir/ler – outros eventos ocorreram em
que a Literatura Indígena se fez presente como a Feira do Livro de Bogotá,
Bienal Nacional do Livro de Brasília, Bienal do Livro do Amazonas, Conferência
Internacional de Empreendedorismo Indígena e a Feira do Livro de Atibaia. Não
foram poucas as ações em um único mês. E quem as noticiou? Quem lembrou de
colocar uma “notinha” nos jornais? Quem teve interesse em acompanhar a luta do
pequeno Davi contra o grande Golias? Quem viu dom Quixote lutando contra os
moinhos de vento?
Aqui
não cabe uma crítica, mas uma constatação: somos mesmos sobreviventes. E vamos
continuar...e não por teimosia, mas por respeito ao sacrifício de nossos
antepassados. Ser teimoso não é um dom, ter respeito à memória é.
Sinceros agradecimentos a todos/as que fizeram
a Literatura Indígena assumir seu protagonismo dentro da sociedade
brasileira. São muitos os nomes e por isso fica meu abraço fraterno ao Núcleo
de Escritores e Artistas Indígenas do Inbrapi – NEArIn – que reúne, congrega,
integra, difunde, apóia e incentiva a difusão da literatura indígena
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Nota: o texto (Litratura indigena...) foi publicado neste blog com a devida autorização do autor.
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