Almir Surui. Imagem extraída do Google
O cacique do século XXI
Publicado em 15 de abril de 2012 por Marcelo Manzatti
Fontes: Larissa Veloso e Marcelo Manzatti
Esqueça o arco e flecha e a imagem de bom selvagem. Conheça Almir Suruí, chefe de tribo em Rondônia que vende créditos de carbono e mapeia o desmatamento da floresta com smartphones
“Quando entrei na universidade, não falava português direito. Era a primeira vez que saía da aldeia. Mas o curso me mostrou que, se eu quisesse sobreviver, teria que aprender como o mundo do não índio funciona. Precisava aprender seus códigos.” A estratégia do chefe Almir Suruí, 37 anos, surtiu efeito. Líder dos paiter-suruís desde os 17 anos, na semana passada ele conseguiu um feito inédito entre os indígenas: a certificação para vender créditos de carbono no mercado internacional.
Que a floresta vale mais em pé do que devastada, muito índio sabe. Mas até o momento, nenhuma tribo tinha pensado em transformar esse valor em dinheiro. Graças às negociações do chefe Almir, os paiter-suruís devem receber de R$ 2 milhões a R$ 4 milhões por ano até 2038 pela preservação da floresta. Até este ano, já foram replantadas 140 mil árvores nativas da reserva Sete de Setembro, em Rondônia. E a inovação não para por aí.
Em 2007, o chefe Almir ganhou fama ao fechar uma parceria com o Google, uma das maiores empresas da área digital. Depois de o cacique visitar a sede da empresa na Califórnia (EUA), foi a vez de representantes americanos visitarem a tribo. A partir daí, o contato dos indígenas com a internet cresceu. Lendas e tradições são agora registradas em vídeo e postadas no YouTube. Na maloca digital, os índios podem incorporar informações sobre desmatamentos ao Google Earth. Em 2011, essa e outras iniciativas conferiram ao líder o título de uma das 100 pessoas mais criativas do mundo dos negócios, selecionadas pela revista americana “Fast Company”.
ATIVISMO
No ano passado, Almir Suruí (foto) levou o protesto contra a usina de Belo Monte a Londres
O chefe Almir é uma das novas caras da sustentabilidade brasileira. Distante da imagem de “índio vítima do homem branco”, ele sabe que precisa somar forças, se quiser mudar a vida de seu povo. E não são poucas (nem pequenas) as associações e empresas ligadas aos paiter-suruís (leia quadro). “Quando assumi, era novo, inexperiente e precisava de parcerias para desenvolver programas que garantissem ao meu povo mais qualidade de vida e valorização da cultura. Eu precisava, principalmente, ter um diagnóstico da real situação para poder tomar as decisões certas”, relembra Almir. O mapeamento da reserva e o biomonitoramento da fauna da região começavam a tomar corpo.
Como sempre, quando se trata de defesa ambiental no coração da Amazônia, o chefe Almir também encontrou inimigos no caminho. Ele recebeu várias ameaças de morte, até que, em 2007, teve de deixar o Estado por sete meses. “Atualmente, as coisas estão mais tranquilas”, esclarece. Apesar disso, ele acredita que a situação está longe do ideal. Um dos questionamentos do líder é sobre a construção da hidrelétrica de Belo Monte. “O processo de consulta aos indígenas da região foi uma farsa. Eles não entendiam os dados técnicos e não puderam analisar a questão com clareza”, defende.
Ele aponta que ainda há muito que avançar na relação de forças entre índios e não índios. “Sempre me pergunto: por que a Justiça não exige que os fazendeiros e madeireiros indenizem os indígenas pela perda das florestas derrubadas, pelos danos aos rios e mortes de animais? Que Justiça é essa que só fez um lado?”, questiona.
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