“Ô caboclo lindo
Que anda fazendo aqui?
Eu ando por terra alheia
Procurando por minha ciência.”
(Canto Kariri-Xocó)
À
luz do canto Kariri, nem é preciso dizer que o cantar acompanhado de um pisar
forte ao som das maracas faz do toré uma ciência. Essa manifestação sagrada
está no ser e no viver dos indígenas da Região Nordeste. Sua poesia vem dos
ancestrais e se alastra como um bem precioso na mente e no coração dos Filhos
da Terra; uma ciência que dá resistência, mesmo quando o ser indígena se vê
meio deslocado em terra alheia.
Entre os Xukuru de Ororubá (Pesqueira/PE), por
exemplo, o toré ganhou novos significados a partir da liderança do Cacique
“Xicão”; novos significados ou um toque mais moderno que algumas mulheres do
povo Xukuru revelam ao enfeitar os seus trajes e adereços com flores, de maneira que isso não as impede de usar vestimentas feitas da
palha de milho, da palha de coco e das penas de aves; pois este é um costume
que vem dos antepassados.
Minha intuição diz que a flor - entre
os adereços agora presentes no toré - sugere ao mesmo tempo a leveza e a força
que vem da Mãe-Terra; leveza e força que o “haijin” (fazedor de haikai) também
necessita parao haikai acontecer. Pensando assim, espero que este livro seja
também veículo de comunicação entre os amantes da poesia, pois enquanto houver
poesia existirá comunicação entre os “encantados” e os participantes do Toré.
O segundo motivo que me levou a escrever esta pequena
apresentação remete à boa lembrança que eu guardo do ensaísta Antonio Fernando
Viana, do qual fui aluna na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), onde ele
ministrou Literatura Comparada nos Cursos de Pós- Graduação em Letras. Recordo
das muitas vezes em que ele me convidou a participar dos encontros e/ou caravanas
literárias que ele organizou junto ao Núcleo de Programas Educacionais e
Culturais (NUPEC/UFPE). Sendo assim, ao abrigo das boas palavras de Antonio
Viana, tomo a liberdade de transcrever, aqui, um fragmento da resenha que ele
fez acerca do meu livro “Canto Mestizo” (1999); essa resenha consta dos Anais
do “I Encontro de Cultura Nordestina: do aboiar do vaqueiro à cadência do
frevo”, realizado em 2000, na FABEJA, em Belo Jardim (PE).
Faz alguns anos que Antonio Viana nos deixou,
mas a saudade fica de tal forma que as suas palavras dão mostra do ser sensível
que compartilhou a riqueza de sua alma para aproximar os possíveis leitores
dos meus quase haicais. Que assim seja e com a palavra, Antonio:
[..] Tentarei
expressar nestas palavras minha surpresa e meu encanto ao descobrir a poesia de
Graça Graúna [...] vemos a autora mostrando- se como um haijin (poeta de
haicai), unindo simplicidade, sensibilidade e sabedoria, em poemetos concisos,
em três versos, como o faziam os antigos haicaístas. Fiel à estética e aos
princípios desta forma poética, a autora cristaliza a instantaneidade do momento, a
transitoriedade do sentimento, assim como a fugacidade do tempo através de
imagens do dia, palavras, cores e sons do cotidiano, da maneira mais simples
possível, como deve realmente ser um belo e autentico haicai. Aqui captamos
toda a emoção, a sensação e o sentimento da poetisa apresentados como uma
espécie de convite a um diálogo e encontro maior com a sua poesia [...] (VIANA, 2000, p. 85-86).
Nordeste do Brasil, abril de 2014
Graça Graúna
GRAÚNA, Graça. Flor da mata. Belo Horizonte: Penninha Edições, 2014.
ISBN: 978-85-67265-08-7
1. Poesia brasileira. 2. Poesia indígena.
Ilustração: Carmen Barbi
Capa: Letícia Santana Gomes
Contato: teardapalavra@gmail.com
Ilustração: Carmen Barbi
Capa: Letícia Santana Gomes
Contato: teardapalavra@gmail.com
3 comentários:
Ganhei de presente esse livro da autora amei. Vou citeu na minha tese. No primeiro encontro com Graça Graúna me identifiquei com seu espírito. Saudades, assina marcia mura.
Márcia MURA, querida parente: sua história é linda e deve ser contada sempre. É importante que todos saibam o quanto lutamos para termos direito ao nosso lugar no mundo. Saiba que me identifico muito com você. Nossas historias são muito parecidas. Sua experiência de vida é magnifica. Muito obrgada pelo carinho e atenção aos meus escritos. Que Nhanderu nos acolha,
Graça Graúna
Olá Graça, tudo bem? Estou tentando algum contato com você. A editora em que trabalho gostaria de reproduzir um texto seu em um livro que estamos editando. Pode por favor entrar em contato? thiago.fontana@somoseducacao.com.br
Obrigado.
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