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30 abril 2009

Demasiado

 
Imagem Google

para Hideraldo Montenegro
humano
é poder apalpar o universo,
ainda que de longe
e sem fronteiras.

Consciente desta possibilidade,
o poeta expõe a solidão
tatuada em seu silêncio.

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Graça Graúna, Nordeste do Brasil, 30.abril.2009
Nota: este poema foi publicado no Overmundo.

26 abril 2009

Estações

Imagem : Graça Graúna
...para Fabiano, Ana e Agnes (meus filhos)
e os os filhos dos meus filhos índioafro-descendentes.



Primavera.
A menina vê um beija-flor na janela
e faz de conta que é o amor chegando

Verão.
A menina vê a praia na janela
e se pergunta: pra onde vai essa onda agora?

Outono.
A menina vê o vento soprando a folha
e se inquieta: será que a folha volta?

Inverno.
A menina vê a chuva na janela
e diz: é Deus chorando

Graça Graúna, Nordeste do Brasil, 26.abr.2009

Nota: poema publicado no Overmundo.

24 abril 2009

Noturno

Escultura: Leo Santana. Foto: Custódio Coimbra



No meio da paisagem tem um poeta.
Toco suas mãos, suas feridas
em meio a tantos saberes no mar da escrita
nossas mãos - produtos de perdas e pedras -
escrevem sobre paz e guerra
sobre (des)caminhos e sonhos abortados.

Tem um poeta
no meio da paisagem.
Da sua retina, diviso o clarão da lua
que abranda a fúria de outras ondas
em Copacabana
a lua, o poeta e outros eus
entre a vida e a morte de mãos dadas
tudo a se multiplicar
numa ciranda de sonhos ao redor

Graça Graúna, uma noite em Copacaba/RJ, 1.junho.2008

Nota:poema publicado no Overmundo.

20 abril 2009

Porantinando*

Criança Saterê
Foto: Jonne Roriz/AE


Remo
Arma
Memória

Sei dos segredos
dos pesadelos

da solidão
dos anseios

do pranto
das matas

dos rituais
das eras

dos mares
das lutas

das curas
das ervas

trago sementes do céu
cultivo os caminhos
conheço o cheiro da terra
mergulho nos sonhos

porantinando a esperança
pelo rio afora
sou arma, remo e memória


(*) No idioma Saterê Mawé, porantim significa remo, arma e memória. O povo Saterê (originário do tronco Tupi) habita na área indígena Andirá-Maráw (delimitada pela Funai) entre o Amazonas e o Pará.

Graça Graúna. Tessituras da terra. 2. ed. Belo Horizonte: M.E. Edições Alternativas, 2001, p. 26-27.

Nota:poema publicado no Overmundo com 176 votos.

19 abril 2009

Poetas de todo o mundo, uni-vos!

Detalhe da "Criação do homem", de Michelangelo


Quer editar o seu livro? Quer editar os seus poemas?
O Ministério da Poesia, edição 2009, está a procura de escritores e poetas. Então, mãos à obra. Para tanto, envie 30 a 60 Poemas, em "Word", tamanho 12, para: ministeriodapoesia2009@gmail.com
Aproveite o embalo e envie também os seus dados pessoais: nome completo, morada, profissão, idade, email e telefone. As inscrições estão abertas até 31 de Maio de 2009. Os resultados serão divulgados durante o mês de Junho de 2009, em www.worldartfriends.com
Os livros escolhidos para publicação serão editados em Maio e Junho de 2009, em papel e tinta e em ebook. Este é no momento a iniciativa que mais livros de Poesia tem editado em Portugal.
No Ministério da Poesia de 2008 foram editados um total de 50 novos livros de 50 poetas. Participem!


Graça Graúna, Nordeste do Brasil, 9.abr.2009
Nota: texto publicado no Overmundo com 114 votos

17 abril 2009

Terra à vi$ta

Tempo de um cocar, de Gilberto Salvador - 1988.


Perdidos no perdido
os filhos da terra

sem barco
sem arco
sem lança
sem onça
sem terra.

Jogados no mundo
os filhos da terra.

Só o silêncio dos deuses
pelos (des)caminhos.


Nordeste do Brasil, abril indígena, 2009
Graça Graúna. Canto mestizo. Maricá/RJ: Blocos Editora, 1999, p.50 [prefácio de Leila Miccolis].

Nota: poema publicado no Overmundo com 197 votos.

16 abril 2009

Sintepe homenageia Solano Trindade



Poetas: França e Solano Trindade
Imagem: Anízio Silva.

A Interpoética convida: dia 23 de abril de 2009, no Teatro de Santa Isabel, com início às 19h, o SINTEPE – Sindicato dos Trabalhadores em Educação do Estado de Pernambuco – homenageia a cultura pernambucana através do lançamento da Coletânea Poética do 1° Concurso de Poesia em homenagem a Solano Trindade. A coletânea reúne a poesia dos vencedores do concurso que foi realizado em 2008, com 333 poetas inscritos de todo o Brasil. Foram selecionados três autores na categoria público geral, e 20 na categoria trabalhadores da área de educação. No público geral, o primeiro e segundo lugares são nomes já conhecidos no Recife: o poeta Malungo e Biaggio Pecorelli. No terceiro lugar ficou o mineiro de Uberlândia Muryel de Zoppa. Na categoria dos trabalhadores em educação os três primeiros lugares ficaram com as poetas Rozana Nascimento, Regina Carvalho e Tânia Sampaio.
Contatos: SINTEPE (91) 2127 8876
Nota: texto publicado no Overmundo com 119 votos.

14 abril 2009

Aguata py’ýi (Acelerar os passos)*

 
Imagem: Onnil, 2005


...e se mil línguas eu também tivesse
levaria teu sonho entre as estrelas
e lá no centro da terra
eu diria: salve negríndio Ademario!

Assim deve ser, assim será
a cada brilho da noite
a cada chama do dia
bem digo a Ñanderu
Nosso Pai verdadeiro:
recebe meu Pai a alquimia da palavra
dos filhos e filhas da terra
recebe nossa alegria e os nossos sonhos
recebe também nossos desencantos
porque somos tua herança
assim também ressurgidos
mas não somos um, nem cem, nem mil
somos infinitamente filhos da resistência
somos parte do teu ser
Potiguara, Guarani,
Tukano, Xavante,
Sateré, Nambikuara,
Pataxó, Truká,
Terena, Munduruku,
Payaya, Fulni-ô
Xukuru, Tupi,
Yanomami....yanomami....
todos os povos
todas as nações
somos todos
do abaeté da lagoa do Senhor do Bomfim
das ladeiras de Olinda do canavial
da serra do vento da serra do mar
de Norte a Sul
de Leste a Oeste
do Oiapoque ao Chui
somos teus somos nossos
e como diria Ademario
vamos todos assim
- Aguata py’ýi!
"Acelerar os passos!"
- Aguata py’ýi!
"Acelerar os passos!"
- Aguata py’ýi!
"Acelerar os passos!"


Graça Graúna, Nordeste do Brasil, abril indígena 2009

(*)Aguata py’ýi (em guarani: acelerar os passos)
Nota: poema publicado no Overmundo com 111 votos.

09 abril 2009

Poéticas indígenas - Sarau

Foto: Dede Fredizzi. Modelo: Alikrim Pataxó

Todo dia é dia de poesia. Com este espírito, o dia 19 de abril foi escolhido pela antropóloga e escritora Deborah Goldemberg, para marcar o I Sarau das Poéticas Indígenas. A idéia, segundo Goldemberg, é reunir escritores(as) indígenas e de outras origens, cuja obra tenha inspiração indígena de alguma região do Brasil. Em outras palavras, nesse I Sarau “não cabe apenas uma única poética, a ocidental [...], mas a diversidade que vive nos cânticos, na história oral, no ritual indígena, tendo em comum a inventividade e o encantamento com a palavra e suas possibilidades. Essa reunião de poetas e poéticas pretende dar projeção e ânimo a este ainda singelo movimento intercultural e literário que é o da literatura indígena” afirma a idealizadora do sarau.A programação contempla as regiões Norte, Nordeste, Sul e Sudeste, com escritores(as) indígenas e simpatizantes da causa indígena no país.
A respeito dos mitos e lendas da Região Norte, consta a apresentação do antropólogo Pedro Cesarino sobre os índios Marubo; apresentação dos índios Eurico Baniwa e Juju Murá, de São Paulo, que abordam a cultura baniwa e murá; declamação do poema “O Guesa errante”, de Sousândrade e do poema “Cobra Norato”, de Raul Bopp. A declamação está a cargo de Tatiana Fraga. Leitura da lenda das Incamiabas – guerreiras do Amazonas, em Ressurgência, livro de Deborah Goldenberg.
Da Região Nordeste, cabe destacar: a apresentação dos índios Pataxó do Sul da Bahia Manoel Santana e Zé Fragoso; do líder indígena Bino Pankararu (PE), que vive em Real Parque, em São Paulo. Leitura da Escritora Eliane Potiguara (RJ), autora de Metade cara, metade máscara. Leitura de poemas e apresentação do vídeo "Canção peregrina" da escritora Graça Graúna (descendente potiguara, RN), radicada em Pernambuco.
Da Região Sul e Sudeste consta: a apresentação dos índios Guarani Nhandeva, com a índia Poty Porã e o índio William Macena. Leitura do escritor indígena Olivio Jekupe, da Aldeia Krukutu (Parelheiro, em São Paulo). Declamação Nicole Cristófalo em torno dos textos poéticos do escritor José de Alencar e do poeta Gonçalves Dias. Declamação de João Pedro Ribeiro (descendente Kaingang), que relembra o modernismo brasileiro, em parceria com os poetas maloqueiristas Caco Pontes e Berimba de Jesus. Leitura do escritor Douglas Diegues, de Assunción, autor de uma coletânea de poemas Guarani M’Bya. Leitura de Pedro Tostes, poeta do movimento paulistano de “Poesia Maloqueirista. A declamação do indígena Emerson de Oliveira Souza (guarani nhandeva, residente em São Paulo) que traz a leitura de um texto do Pajé Florêncio Portillo, de 1993.
O programa Entrelinhas, da TV Cultura, dedicado à literatura, irá também fazer a cobertura do evento. O sarau acontecerá na Casa das Rosas - Espaço Haroldo de Campos de Poesia e Literatura - considerado um local de celebração da poesia, da literatura e da arte em geral e que serve de cenário para a efervescência da vida cultural.

Nota: o modelo do cartaz, Alikrim Pataxó, vive na Aldeia Olho do Boi, Caraíva, Bahia.
Onde fica: Casa das RosasAv. paulista, 37, São Paulo - SP
Quando ir:19/4/2009, às 20:00h

Graça Graúna, Nordeste do Brasil, 9.abr.2009
Nota: artigo publicado no Overmundo com 169 votos

Indicação para mais um prêmio: o TopBlog

Este blog está inscrito na categoria Cultura, do Grupo Blogs Pessoais, isto é, blogs com notícias e dicas culturais, além de vídeos e fotos de lugares relacionados ao tema. Acompanhe o processo de votação que é do dia 04/05/09 as 02:00am até 11/08/09 as 11:55pm horário de Brasília. Durante o período de votação, os internautas poderão escolher e votar em um ou mais candidatos (BLOG) em diferentes grupos e categorias considerando-se válidos apenas UM voto por candidato (Blog) Entende-se “internauta” a pessoa física proprietária de um cadastro válido e legítimo no TOPBLOG.
[...]
Encerrada a votação popular, no dia 11/08/09, será divulgada no site do Prêmio a lista dos 100 blogs mais votados em cada categoria de cada grupo, finalizando 3.500 concorrentes. Todos receberam o SELO TOPBLOG 100 PRÊMIO JURI POPULAR e automaticamente passam a concorrer na segunda fase do prêmio: Avaliação técnica (Júri Acadêmico).
Serão eleitos vencedores do TOPBLOG PRÊMIO JURI POPULAR os 3 Blogs que obtiverem em seu grupo/categoria o maior número de votos pelos internautas (Júri popular).

07 abril 2009

O direito à literatura indígena

Cocar, arte dos índios Bororo

A literatura indígena é um lugar de confluência de vozes silenciadas e exiladas ao longo da história há mais de 500 anos. Enraizada nas origens, esse instrumento de luta e sobrevivência vem se preservando na autohistória de escritores(as) indígenas e descendentes e na recepção de um público diferenciado, isto é, uma minoria que semeia outras leituras possíveis no universo de poemas e prosas autóctones.

A voz do texto mostra que os direitos dos povos indígenas de expressar seu amor à terra, de viver seus costumes, sua organização social, suas línguas e de manifestar suas crenças nunca foram considerados de fato e que apesar da intromissão dos valores dominantes, o jeito de ser e de viver dos povos indígenas e seus descendentes vence o tempo. A tradição literária (oral, escrita, individual, coletiva) é uma prova dessa sobrevivência. Essa tradição é abordada a partir de um conjunto de textos literários indígenas de autoria individual de língua portuguesa, em que se manifesta a literatura-assinatura de milhões de povos excluídos.

A presente reflexão remete as minhas investigações no campo das chamadas literaturas periféricas e dos estudos culturais em Contrapontos da literatura indígena contemporânea no Brasil (tese de Doutorado em Letras, que eu defendi em março de 2003, na UFPE). O referido estudo propõe uma leitura das diferenças em obras de autoria indígena que foram publicadas no período de 2000 a 2002. : Nessa perspectiva, temos:

• a poesia indígena em Metade cara, metade máscara, de Eliane Potiguara (Ed. Palavra de Índio). Eliane fundou o GRUMIN- atual Rede de Comunicação Indígena sobre Gênero e Direitos;
• a “contação de histórias” em Puratig: o remo sagrado, de Yaguarê Yamã (Ed. Peirópolis, 2001). Yamã pertence ao povo Sateré Mawé, isto é, “filhos do guaraná”. Na língua Mawé, “poratim” significa remo, arma, memória;
O saci verdadeiro - de Olívio Jekupé (Ed. Universidade Estadual de Londrina, 2000) - traz um prefácio de Betty Mindlin. Descendente guarani, Jekupé vive na Aldeia Krukutu em São Paulo e tem outros livros publicados. As dificuldades econômicas impediram-no de concluir o Curso de Filosofia na USP;
Irakisu: o menino criador, de Renê Kithãulu (Ed. Peirópolis, 2002). Esse autor pertence ao povo Waikutesu, da região Nambikwara, em Mato Grosso. Trabalha com engenharia de casas indígenas em São Paulo, onde mora há alguns anos;
Meu vô Apolinário: um mergulho no rio da memória, de Daniel Munduruku (Ed. Studio Nobel, 2001). Esse livro foi premiado pela UNESCO em abril de 2003. Em julho desse mesmo ano, o autor também recebeu (pelo conjunto de sua obra) o prêmio Erico Vanucci no 55º Congresso da SBPC. Munduruku é idealizador da Editora Palavra de Índio.

Pôr em relevo os acontecimentos que a mídia, em geral, não conta é uma das características da literatura indígena contemporânea. Em algumas das obras é frequente uma incursão na história do movimento indígena no Brasil e em outros países e reflexões também relacionadas ao papel da Campanha da Fraternidade da CNBB, a exemplo da Semana dos Povos Indígenas de 2002 inspirada no mito guarani – “em busca da terra sem males”. Gerando a sua própria teoria, a literatura escrita dos povos indígenas no Brasil pede que se leiam as várias faces de sua transversalidade, a começar pela estreita relação que mantém com a literatura de tradição oral, com a história de outras nações excluídas (as nações africanas, por exemplo), com a mescla cultural e outros aspectos fronteiriços que se manifestam na literatura estrangeira e, acentuadamente, no cenário da literatura Nacional.

Como distinguir as especificidades da literatura indígena? Como reconhecer a existência dessa literatura, em meio a tantos “apagamentos”? Quais os pontos de confluência entre os diferentes saberes dos povos indígenas no Brasil ou em Quebec, no Paraguai ou no México, na Guatemala ou no Chile, no Peru ou na Bolívia, levando em conta o processo de transculturação? Esse questionamento é um convite para repensar “a utopia em seu sentido antropológico como toda possibilidade de sonhar um mundo melhor, todo projeto coletivo, toda idéia que dê sentido à vida e às suas expressões cotidianas”, como observou a antropóloga Luciana Tamagno, no Jornal Porantim (CIMI), em 1999.

Esse convite deve estender-se também aos teóricos da literatura, levando em conta que a literatura indígena ainda é pouco estudada em seu aspecto contemporâneo, particularmente em seus aspectos fronteiriços. Ao contrário do que se pensa, os ventos da aldeia também percorrem o tempo e o espaço compartilhado na Internet, em oficinas literárias, em palestras e em sala de aula nas cidades grandes. Basta um lugar e um olhar receptivos, um leitor atento para o ato de narrar e/ou declamar se expandir igual a “seiva que percorre o corpo das árvores”, conforme intuímos em uma passagem da carta do Chefe Seatle frequentemente citada por escritores(as) indígenas no Brasil.

A Declaração Universal dos Direitos Indígenas considera que todos os povos originários de cada nação com língua, cultura, tradição e espiritualidade diferenciadas da sociedade em que vivem são considerados indígenas, incluindo (entre as manifestações artísticas) a sua literatura (oral ou escrita). Isso faz ver que a escassez de estudos em torno do assunto é decorrência também do preconceito; que a literatura indígena no Brasil continua sendo negada, da mesma forma com que a situação dos seus escritores e suas escritoras continua sendo desrespeitada. A situação não é diferente com relação aos escritores descendentes indígenas e afro-descendentes (Ademario Ribeiro, Carolina de Jesus, Solano Trindade e Gonçalves Dias entre outros). Essa questão ainda não se livrou do prisma etnocentrista.

Desse modo, considero oportuno ressaltar as boas palavras do poeta e crítico Antonio Risério (1993). Em seu livro Textos e tribos, ele nos convida (sob o signo do poeta Sousândrade) a uma leitura da cumplicidade da prosa e da poesia que brotam sem cessar, nos cantos xamânicos e na oralidade, entre outros conhecimentos tradicionais.


Graça Graúna. Contrapontos da literatura indígena contemporânea no Brasil. Recife: UFPE (trecho da tese de Doutorado, defendida em 2003).
Nota: artigo publicado no Overmundo com 146 votos.

05 abril 2009

Agora é o nosso momento de contar a história



A jornalista Kelly de Souza escreveu para a Revista da Cultura (edição 21, abril de 2009) uma reportagem acerca da Literatura escrita por homens e mulheres indígenas, na atualidade. O título da matéria “Tupi or not Tupi” faz uma referência ao escritor Mário de Andrade, um dos grandes pensadores no cenário da cultura brasileira. Para falar da literatura indígena, a jornalista Kelly fez uma entrevista com Daniel Munduruku, Eliane Potiguara e comigo. Nas palavras de Kelly:

"Diz a sabedoria popular que a história sempre tem duas ou mais versões. O Descobrimento do Brasil, em abril de 1500, não fugiu à regra. Cedo, aprendemos com Pero Vaz de Caminha, escrivão da expedição de Cabral, como se comportavam os índios da recém-descoberta terra. A carta de Caminha, considerada a primeira obra literária do país, descreve com deslumbramento ao rei Dom Manuel, essa “gente de tal inocência”. Empolgado com a “bela simplicidade” deles, Caminha faz sua aposta: “Se entendêssemos a sua fala e eles a nossa, (...) não duvido que imprimir-se-á facilmente neles qualquer cunho que lhe quiserem dar”. Graças a este documento, conhecemos as impressões (e intenções) dos primeiros contatos entre portugueses e indígenas. A escrita, ferramenta fundamental nesse processo, não era dominada pelos índios, cuja oralidade funcionava como instrumento de transmissão das histórias vividas, dos mitos e das lendas criadas. Essa “memória ancestral”, passada de geração para geração, ficou bem escondida entre as matas e etnias dessa terra chã. A história do Descobrimento brasileiro ficou apenas com uma versão: a do homem branco".
(...)
Para saber mais dessa manifestação literária, convido todos(as) para ler a grande contribuição de Kelly a respeito da identidade do Brasil pré-colonial na obra de escritores(as) indígenas. No dia 16 de junho, escritores(as) indígenas serão recebidos pela Academia Brasileira de Letras (ABL). Será um encontro inédito, em seu salão nobre. “A ideia é abrir um diálogo com os imortais para aproximar as duas literaturas e mostrar que o que se produz na floresta – a oralidade – é também a literatura utilizando o mecanismo da palavra”, explica Munduruku – autor do primeiro romance indígena escrito no Brasil. A sexta edição do Encontro de Escritores Indígenas, será realizada entre 10 a 21 de junho, no Rio de Janeiro, durante o Salão do Livro, da Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil (FNLIJ).

Graça Graúna, Nordeste do Brasil, 5.abr.2009
Nota: artigo publicado no Overmundo com 303 votos.

03 abril 2009

Sinais

Imagem Google. Flor da paixão
Pelo cálice de angústias
da flor do maracujá!
(Fagundes Varela )
Os shoppings estão repletos
as praias superlotadas
a miséria batendo à porta
e a relação com o sagrado,
cada vez mais, banalizada.

Em cada canto mais sofrimentos
milhões de gente faminta
enquanto a crise financeira
tem mais destaque no mundo.
Triste realidade
e há quem lucre com isso
enquanto pelas ruas
os excluídos encarnam
a Paixão de Cristo.

Quem há de aplacar a fome do mundo?

Graça Graúna, Nordeste do Brasil, Quaresma de 2009
Nota: poema publicado no Overmundo com 86 votos