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28 julho 2008

Elegia do amor maduro

O beijo, de Klimt



Quando o tempo do silêncio
assentar em nossos corações
a pedra do esquecimento
já não seremos aquela árvore vibrante
nem gozaremos com as vorazes cataratas
ao rumor da vida.

Quando ese tempo chegar
é certo que chorarei
sobre os restos mortais
do nosso verso-reverso.
É certo que chorarei
Sobre o nosso sudário.

Quando esse tempo chegar
a Paz e a Liberdade
de certo perguntarão:
– Vorazes cataratas ao rumor da vida,
sabedes nova do meu amado?
Sabedes nova do meu amigo?


Graça Graúna
Nordeste do Brasil, 25.jul.2008, Dia do Escritor

Nota: no site Overmundo, este poema recebeu 269 votos.

25 julho 2008

Quase idílio


  
Foto: Lucypassos


...vontade de ficar numa rede
recitar poesia
corresponder aos teus abraços e mais coisas....

quero ao pé da fogueira
ouvir o velho Gonzaga
e profundamente
amar você

- Ao som dos foguetes lá longe
as árvores rodeando, nos vigiando.

- O frio, a gente conversando, lendo na rede
(eu adoro rede e tenho uma que uso para ler)
uma rede para nós dois
nosso leito nupcial

Ao pé da fogueira, tanta coisa!
O licor e o milho
o beijo para dar
o abraço e mais coisas...

uma noite de São João
era uma vez
a festa que ele esperou
e ela também, o ano inteiro.
Num instante, tudo se desfez
e só restou a canção

---- * ----

“Quando eu tinha seis anos
Não pude ver o fim da festa de São João
Porque adormeci” (Bandeira).

Hoje, aos sessent'anos
leio Bandeira
Profundamente


Graça Graúna,
Nordeste do Brasil, 25.jul.2008
Nota: no site Overmundo, este poema foi contemplado com votos.

15 julho 2008

Cumplicidade


Agora e pela hora da minha agonia
louvo Trindade
e Jorge de Lima
cantando
catando
as duras penas


– De onde vem, Solano, esta agonia?
– Vem de longe, minha nega, de muito longe!
De Africamérica sonhada
lá, donde crece la palma
plantada en versos de alma
del hombre José Martí

– De onde vem, Solano, esta agonia?
– Vem de longe, nega!
Do comecinho das coisas,
de muito longe, nega,
muito longe.


Graça Graúna. Cumplicidade, In: Tessituras da Terra. Belo Horizonte: M.E. Edições Alternativas, 2001, p.17.
No site Overmundo, este poema recebeu 189 votos.


100 anos de um poeta negro. Solano Trindade nasceu no bairro de São José (Recife-PE), em 24 de julho de 1908. Filho do sapateiro Manuel Abílio e da quituteira Emerenciana, mais conhecida como Merença. Ele foi pintor, teatrólogo, folclorista, ator e, por excelência, poeta da resistência negra. Em 1936, fundou a Frente Negra Pernambucana e o Centro de Cultura Afro-brasileiro com o objetivo de divulgar intelectuais e artistas negros(as).

Para saber mais, visite a Biblioteca Comunitária Solano Trindade

07 julho 2008

Canto Mestizo



Donde hay una voluntad
hay un camino de espera.
Apesar de las fronteras
las carceles se quebrantan.
Mira! En mi tierra mestiza
un pájaro de América canta!

Canta la Libertad, hermano!
Canta la Libertad!

Canta la fuerza del pueblo
del niño solo en la calle
del campesino y el obrero
hermanos de la Verdad.
La Libertad incendia
tu voz cruzando el aire.

Canta la Libertad, hermano!
Canta la Libertad!


Graça Graúna, Nordeste do Brasil, março de nuvens escuras em 1979, In: Canto Mestizo. Editora Blocos, Maricá/RJ, 1999.
NOTA: há mais de 30 anos fiz este poema em homenagem a Mercedes Sosa e a todos(as) militantes da justiça, da liberdade e da paz na América Latina. Com este poema também homenageio a colombiana e ambientalista Ingred Bettancourt. Paz em Nhande Rú para todos(as).
Nota: no site Overmundo, este poema recebeu 176 votos>

02 julho 2008

Horas-cheias

Foto: dominio público

nossos passos ecoam
em meio ao frêmito de asas
a poesia vem e vai
se alastrando
como quer a natureza:
gruta
sol-ponteiro
cabelos ao vento
o arrepio de corpos
em meio a passarada

(Graça Graúna, Nordeste do Brasil, 2 de julho de 2008)
Nota: no site Overmundo, este poema recebeu 151 votos.