Foto: Agência Senado
Fonte:
Folha de São Paulo
Uma
canção em prol da demarcação de terras indígenas ecoa entre os indígenas, na
Mobilização Nacional Indígena, entre os dias 24 a 28 de abril.. Composta por
Carlos Rennó e musicada por Chico César, a canção “Demarcação Já” foi gravada
por dezenas de artistas com destaque na cena musical brasileira.
Participaram
da gravação, além de Chico César, Arnaldo Antunes, Criolo, Céu, Djuena Tikuna,
Dona Odete, Elza Soares, Gilberto Gil, Felipe Cordeiro, Letícia Sabatella,
Gilberto Gil, Lenine, Lirinha, Margareth Menezes, Maria Bethânia, Nado Reis,
Ney Matogrosso, Russo Passapusso, Tetê Espíndola, Zeca Baleiro, Zeca Pagodinho,
Zé Celso (Teatro Oficina) e Zélia Duncan.
A
composição da música é uma iniciativa do Greenpeace, Instituto Socioambiental,
Bem-te-vi em parceria com as produtoras Cinedelia e O2. A letra da canção e o vídeo critica govmerno e ruralistas
em prol da demarcação de terras indígenas.
“Demarcação
já”
Já que depois de mais de
cinco séculos
E de ene ciclos de etnogenocídio,
O índio vive, em meio a mil flagelos,
Já tendo sido morto e renascido,
E de ene ciclos de etnogenocídio,
O índio vive, em meio a mil flagelos,
Já tendo sido morto e renascido,
Tal como o povo kadiwéu e o
panará
– Demarcação já!
Demarcação já!
Demarcação já!
Já que diversos povos vêm
sendo atacados,
Sem vir a ver a terra demarcada,
A começar pela primeira no Brasil
Que o branco invadiu já na chegada:
A do tupinambá –
Sem vir a ver a terra demarcada,
A começar pela primeira no Brasil
Que o branco invadiu já na chegada:
A do tupinambá –
Demarcação já!
Demarcação já!
Demarcação já!
Já que, tal qual as obras da
Transamazônica,
Quando os milicos os chamavam de silvícolas,
Hoje um projeto de outras obras faraônicas,
Correndo junto da expansão agrícola,
Induz a um indicídio, vide o povo kaiowá,
Quando os milicos os chamavam de silvícolas,
Hoje um projeto de outras obras faraônicas,
Correndo junto da expansão agrícola,
Induz a um indicídio, vide o povo kaiowá,
Demarcação já!
Demarcação já!
Demarcação já!
Já que tem bem mais
latifúndio em desmesura
Que terra indígena pelo país afora;
E já que o latifúndio é só monocultura,
Mas a T.I. é polifauna e pluriflora,
Que terra indígena pelo país afora;
E já que o latifúndio é só monocultura,
Mas a T.I. é polifauna e pluriflora,
Ah!,
Demarcação já!
Demarcação já!
Demarcação já!
E um tratoriza, motosserra,
transgeniza,
E o outro endeusa e diviniza a natureza:
O índio a ama por sagrada que ela é,
E o ruralista, pela grana que ela dá;
E o outro endeusa e diviniza a natureza:
O índio a ama por sagrada que ela é,
E o ruralista, pela grana que ela dá;
Hum… Bah!
Demarcação já!
Demarcação já!
Demarcação já!
Já que por retrospecto só o
autóc
Tone mantém compacta e muito intacta,
E não impacta, e não infecta, e se
Conecta e tem um pacto com a mata
Tone mantém compacta e muito intacta,
E não impacta, e não infecta, e se
Conecta e tem um pacto com a mata
–Sem a qual a água acabará –,
Demarcação já!
Demarcação já!
Demarcação já!
Pra que não deixem nem
terras indígenas
Nem unidades de conservação
Abertas como chagas cancerígenas
Pelos efeitos da mineração
Nem unidades de conservação
Abertas como chagas cancerígenas
Pelos efeitos da mineração
E de hidrelétricas no ventre
da Amazônia, em Rondônia, no Pará…
Demarcação já!
Demarcação já!
Demarcação já!
Já que “tal qual o negro e o
homossexual,
O índio é ‘tudo que não presta'”, como quer
Quem quer tomar-lhe tudo que lhe resta,
Seu território, herança do ancestral,
O índio é ‘tudo que não presta'”, como quer
Quem quer tomar-lhe tudo que lhe resta,
Seu território, herança do ancestral,
E já que o que ele quer é o
que é dele já,
Demarcação, “tá”?
Demarcação já!
Demarcação já!
Pro índio ter a aplicação do
Estatuto
Que linde o seu rincão qual um reduto,
E blinde-o contra o branco mau e bruto
Que lhe roubou aquilo que era seu,
Que linde o seu rincão qual um reduto,
E blinde-o contra o branco mau e bruto
Que lhe roubou aquilo que era seu,
Tal como aconteceu, do pampa
ao Amapá,
Demarcação lá!
Demarcação já!
Demarcação já!
Já que é assim que certos
brancos agem:
Chamando-os de selvagens,
se reagem,
E de não índios, se nem fingem reação
À violência e à violação
E de não índios, se nem fingem reação
À violência e à violação
De seus direitos, de Humaitá
ao Jaraguá;
Demarcação já!
Demarcação já!
Demarcação já!
Pois índio pode ter iPad,
freezer, TV, caminhonete, “voadeira”,
Que nem por isso deixa de ser índio
Nem de querer e ter na sua aldeia
Cuia, canoa, cocar, arco, maracá.
Que nem por isso deixa de ser índio
Nem de querer e ter na sua aldeia
Cuia, canoa, cocar, arco, maracá.
Demarcação já!
Demarcação já!
Demarcação já!
Pra que o indígena não seja
um indigente,
Um alcoólatra, um escravo ou exilado,
Ou acampado à beira duma estrada,
Ou confinado e no final um suicida,
Já velho ou jovem ou – pior – piá.
Um alcoólatra, um escravo ou exilado,
Ou acampado à beira duma estrada,
Ou confinado e no final um suicida,
Já velho ou jovem ou – pior – piá.
Demarcação já!
Demarcação já!
Demarcação já!
Por nós não vermos como
natural
A sua morte sociocultural;
Em outros termos, por nos condoermos –
E termos como belo e absoluto
A sua morte sociocultural;
Em outros termos, por nos condoermos –
E termos como belo e absoluto
Seu contributo do tupi ao
tucupi, do guarani ao guaraná.
Demarcação já!
Demarcação já!
Demarcação já!
Pois guaranis e makuxis e
pataxós
Estão em nós, e somos nós, pois índio é nós;
É quem dentro de nós a gente traz, aliás,
De kaiapós e kaiowás somos xarás,
Estão em nós, e somos nós, pois índio é nós;
É quem dentro de nós a gente traz, aliás,
De kaiapós e kaiowás somos xarás,
Xará.
Demarcação já!
Demarcação já!
Demarcação já!
Pra não perdermos com quem
aprender
A comover-nos ao olhar e ver
As árvores, os pássaros e rios,
A chuva, a rocha, a noite, o sol, a arara
E a flor de maracujá,
A comover-nos ao olhar e ver
As árvores, os pássaros e rios,
A chuva, a rocha, a noite, o sol, a arara
E a flor de maracujá,
Demarcação já!
Demarcação já!
Demarcação já!
Pelo respeito e pelo direito
À diferença e à diversidade
De cada etnia, cada minoria,
De cada espécie da comunidade
De seres vivos que na Terra ainda há,
À diferença e à diversidade
De cada etnia, cada minoria,
De cada espécie da comunidade
De seres vivos que na Terra ainda há,
Demarcação já!
Demarcação já!
Demarcação já!
Por um mundo melhor ou, pelo
menos,
Algum mundo por vir; por um futuro
Melhor ou, oxalá, algum futuro;
Por eles e por nós, por todo mundo,
Algum mundo por vir; por um futuro
Melhor ou, oxalá, algum futuro;
Por eles e por nós, por todo mundo,
Que nessa barca junto todo
mundo “tá”,
Demarcação já!
Demarcação já!
Demarcação já!
Já que depois que o enxame
de Ibirapueras
E de Maracanãs de mata for pro chão,
Os yanomami morrerão deveras,
Mas seus xamãs seu povo vingarão,
E sobre a humanidade o céu cairá,
E de Maracanãs de mata for pro chão,
Os yanomami morrerão deveras,
Mas seus xamãs seu povo vingarão,
E sobre a humanidade o céu cairá,
Demarcação já!
Demarcação já!
Demarcação já!
Já que, por isso, o plano do
krenak encerra
Cantar, dançar, pra suspender o céu;
E indígena sem terra é todos sem a Terra,
É toda a civilização ao léu
Cantar, dançar, pra suspender o céu;
E indígena sem terra é todos sem a Terra,
É toda a civilização ao léu
Ao deus-dará.
Demarcação já!
Demarcação já!
Demarcação já!
Sem mais embromação na mesa
do Palácio,
Nem mais embaço na gaveta da Justiça,
Nem mais demora nem delonga no processo,
Nem retrocesso nem pendenga no Congresso,
Nem lengalenga, nenhenhém nem blablablá!
Nem mais embaço na gaveta da Justiça,
Nem mais demora nem delonga no processo,
Nem retrocesso nem pendenga no Congresso,
Nem lengalenga, nenhenhém nem blablablá!
Demarcação já!
Demarcação já!
Demarcação já!
Pra que nas terras finalmente
demarcadas,
Ou autodemarcadas pelos índios,
Nem madeireiros, garimpeiros, fazendeiros,
Mandantes nem capangas nem jagunços,
Milícias nem polícias os afrontem.
Ou autodemarcadas pelos índios,
Nem madeireiros, garimpeiros, fazendeiros,
Mandantes nem capangas nem jagunços,
Milícias nem polícias os afrontem.
Vrá!
Demarcação ontem!
Demarcação já!
Demarcação já!
E deixa o índio, deixa o
índio, deixa os índios lá.
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