Fórum Social Indígena – RIO+20
Fórum de Bertioga. Imagem extraída do Google
CARTA DE BERTIOGA
Nós
Povos Indígenas reunidos em Bertioga durante o Fórum Social Indígena – RIO+20,
com base nos nossos conhecimentos tradicionais, nossa cultura e nossa espiritualidade
declaramos:
Nunca
devemos esquecer os espíritos de nossos antepassados e nosso Amor a Mãe Terra.
Não devemos abandonar os ensinamentos dos mais velhos e as formas
tradicionais de ensinar e aprender.
No
início do inverno durante o mês de Junho o mundo moderno vai se reunir no
Brasil com apoio da ONU e do Governo Federal para discutir o futuro do Planeta
Água. Eles dizem que o Desenvolvimento é a melhor estratégia para cuidar da Mãe
Terra. Isso sempre foi falado e na verdade isso afetou, agrediu e matou muitas
fontes de água, de biodiversidade e até os seres humanos. Por isso afirmamos
que a sustentabilidade é muito simples. Basta respeitar e preservar a natureza
porque ela é à força do nosso mundo. Se as grandes potências não sabem cuidar da
Mãe Terra nós Povos Indígenas temos a obrigação e requeremos o direito de
participar das grandes decisões que envolvem questões econômicas e politicas,
pois as consequências por um mundo melhor passam pelos conhecimentos
tradicionais dos Povos Indígenas.
A
energia que é o sol do progresso do homem branco tem como válvula as
hidrelétricas. Mesmo que alguém afirme que isso é limpo e renovável, nossos
lideres espirituais avisam que ela interrompe a história, a cultura, a economia
e a Identidade de muitos Povos.
As
autoridades e os Poderes do Estado devem aprender a ouvir a voz dos Povos
Indígenas. No caso do Brasil exigimos que o Congresso Nacional suspenda o
Projeto que visa impedir a Demarcação de nossas Terras com o Plano Legislativo
215. O responsável principal pela divida histórica de demarcar as Terras é o
Governo Federal, é o Poder Executivo. Solicitamos que na Rio+20 a demarcação de
terras indígenas seja reconhecida como política Pública Estratégica de
conservação e uso sustentável de biodiversidade.
Observamos
a quantidade de homens, mulheres e crianças no mundo do homem branco que não
tem o direito sagrado de se alimentar e nem onde dormir. A Terra é o abrigo da
verdadeira segurança alimentar. É preciso cultivar a agricultura natural usando
o que já existe e assim matar a fome de muitos povos e famílias e não produzir
a agricultura de uma cor só ou para mover os motores da modernidade em nome do
progresso.
É
preciso que o setor privado assuma um compromisso concreto com o meio
ambiente e a qualidade de vida do Povos Indígenas.
Nós
acreditamos no potencial cultural, social, econômico e ambiental das nossas
florestas, mas não aceitamos o conceito de economia verde que pretende vender o
ar de nossas terras. Quem é o dono do ar? Quem tem o direito de comprar o ar?
Quem tem o direito de vender?
Por
tudo isso Nós Povos Indígenas reforçamos perante a ONU e o Governo do Brasil
nosso direito de participar como protagonistas da conferencia Rio+20 não como
peça folclórica, mas como Povos Indígenas soberanos e anfitriões na Aldeia
KARI-OCA. Lá junto com o homem branco, o negro e comunidades locais, junto com
o Meio Acadêmico e Científico, Mulheres, Jovens e Guerreiros queremos abrir o
diálogo da Terra, o diálogo por um Mundo com qualidade de vida. Chamamos governos
e Estados a se juntarem nesse compromisso coletivo determinando em seus
compromissos políticos e econômicos metas claras e ações concretas para
respeitar a natureza na busca de uma nova economia onde o bem comum seja o
compromisso principal.
Nós,
Povos Indígenas temos esse compromisso com a Mãe Terra também com o bem viver
das futuras gerações.
Bertioga, litoral de São Paulo, 21
de Abril de 2012.
Assinam 250 Indígenas do Brasil com
apoio de representações da sociedade civil, mulheres, jovens, negros,
populações tradicionais, professores e estudantes, Nação Indígena Terena,
Guarani, Manchineri, Tupinambá, Kisêdjiê, Kayapó, Xavante, Kalapalo, Karajá e
Mamaindé, Kaingáng, Umutina, Apinajé, Pataxó, Yawalapiti, Xambioá, Maxacali,
Kamayurá, Tikuna, Borun e Xerente.
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