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29 janeiro 2012

A arte como exercício de cidadania em João Werner

JoãoWerner:  Karas

          Pela Internet, as primeiras impressões da exposição de gravuras intitulada “Ladrões” me chegam numa mistura de imagem e palavra; pois o artista João Werner - de tão insatisfeito com as desigualdades sociais, estampa em vinte e quatro gravuras um espécie de 3x4 da triste realidade que nos cerca.

 João Werner: Distribuição de rendas

          O pouco que eu conheço da arte de João Werner talvez não me dê o direito de escrever acerca dos seus personagens, dos seus traços, do seu compromisso com o social em meio ao seu apurado senso estético. Conhecendo apenas virtualmente suas gravuras em torno de um cotidiano tão violento, quer seja no Brasil ou em outras partes do mundo; penso que é importante arrecadarmos um tempinho que seja para refletir acerca do tempo de desumanização; ao fazer isto, não estamos refletindo sozinhos, pois Werner aguça em nós a vontade verdadeira de fazer alguma coisa para tornar o mundo melhor. Por meio da sua arte podemos dizer que estamos exauridos do ar pesado oriundo da violência. Muitos até podem ignorar ou torcer o rosto pro outro lado diante da realidade que custa crer; mas não adianta dobrar a esquina e fingir que aquela pessoa lá na escuridão seja um fantasma dos tempos sombrios; fantasmas da falta de liberdade de expressão. Podem até fingir que aquele tiroteio não é na esquina da sua mansão. Imagina, tiroteio em área nobre nunca existiu. Imagina, o dano à propriedade não vai lhe prejudicar em nada; nem as torturas, nem o vandalismo, nem as detenções; nada disso vai tirar a sua sanidade, a sua boa fé, a sua honestidade, a sua consciência étnica e tudo que lutamos para obter a custa de sacrifício e direitos. 

João Werner: Tiroteio
          
          Visitar ainda que virtualmente, ou atravessar as ruas de Londrina e ver de perto as gravuras de Werner é uma forma de exercer a cidadania e mostrar que por meio da arte também se faz militância pelos direitos humanos.

Nordeste do Brasil, verão de 2012.
Graça Graúna


Para saber mais, acesse o link:
http://www.joaowerner.com.br/

25 janeiro 2012

Especial de Literatura Indígena na Revista Continente


          A edição mais recente da Revista Continente (n. 133, Ano XII, jan.2012) traz uma reportagem especial a respeito da Literatura Indígena. A matéria (Literatura – encontro entre oralidade e memória de uma nação) é assinada pela jornalista Isabelle Câmara. A capa é ilustrada por Maurício Negro; conforme suas declarações à revista, sua ilustração é uma homenagem aos Kambiwá – povo indígena do sertão pernambucano que se veste de fibra de caroá para participar do ritual do praiá.


          A reportagem destaca a atuação de Nhenety Karirio-xocó junto à rede Índios Online; uma rede voltada para o diálogo entre os povos indígenas. Outra Ong indígena apresentada na matéria é a Thydêwá – por meio da qual os indígenas do Nordeste lançaram o vídeo duplo “Celulares indígenas” e  “Indígenas digitais” e o livro “Somos patrimônio - índios na visão dos índios”. A matéria também focaliza o livro “Filhos da mãe natureza”, do povo Xucuru (PE); “Caminhando pela história pataxó”, de Katão Pataxó (BA) e o pensamento de Marcos Terena – uma das lideranças mais respeitadas no país e articulador dos direitos indígenas. Terena é coautor do livro: O índio aviador. Segundo Terena, “cada índio escreve segundo a sua etnia, sua identidade” (CONTINENTE, p. 28); ele ressalta que os livros que escrevemos servem para todos os indígenas.

          Tive a oportunidade de trocar muitas ideias com Isabelle, de maneira que o nosso diálogo se transforma  em várias passagens de sua reportagem com referência ao meu pensamento em torno da literatura indígena. A matéria também cita outros escritores indígenas e algumas de suas obras: Ely Macuxi (Ipaty: o curumim da selva); Olivio Jekupé (Tekoa, conhecendo uma aldeia indígena); Eliane Potiguara (Metade cara, metade máscara), Sulamy Kati (Nós somos só filhos); Tiago Hakiy (Awyató-Pó, histórias indígenas para crianças); Vãgri Kaigand (Jóty, o tamanduá); Arthur Shaker (Por dentro do escuro); Povo Cariri (Mãe D’Água, uma história dos cariris) e várias obras de Daniel Munduruku que em sua entrevista afirma que em nossa literatura indígena  “o repertório das histórias é inesgotável” (CONTINENTE, p.30).

          Para concluir este meu pequeno comentário em torno da reportagem especial da Revista Continente, gostaria de reiterar algumas palavras que declarei à jornalista Isabelle. Quando ela me perguntou sobre a designação de literatura indígena, respondi que a nossa literatura indígena é tão universal quanto a literatura brasileira, portuguesa, hispânica, entre outras manifestações artísticas. A designação indígena, nativa, periférica ou  minorias não aumenta ou diminui a noção estética; mas aguça  a noção de resistência, de identidade.


Nordeste do Brasil, verão  de 2012.
Graça Graúna

24 janeiro 2012

Rap indígena no Fórum Social Temático 2012

Imagem extraída do site: http://www.vermelho.org.br/

O primeiro grupo de rap indígena do Brasil, o Brô MCs, se apresentará no dia 26 de janeiro durante o Fórum Social Temático (FST) 2012, em São Leopoldo, na Grande Porto Alegre (RS), às 21h. Os rappers farão a Ópera Rap Global, uma releitura do livro Rap Global, do sociólogo português Boaventura de Souza Santos. Em entrevista à Central Únical de Favelas (Cufa), eles contam como o grupo surgiu.

Para saber mais, acesse o link:

21 janeiro 2012

Thiago Pethit: a doçura que vem da voz humana


          Em meio aos problemas tantos aos quais estamos expostos no dia a dia, a boa música tem o poder de nos colocar nos eixos; de nos salvar da margem e de não nos sentirmos forasteiros, ainda que por alguns momentos. E quando temos a oportunidade de sentir o nosso lugar no mundo, de apreciar, ouvir, ver de perto e poder intuir a doçura que vem da voz humana; aí parece que os problemas ganham soluções. Compartilhar essa experiência é uma aventura humana.

          Na verdade, a boa música nos veste de coragem pra seguirmos a luta; a boa música nos anima pela estrada da vida, ainda que sejamos tentados a abandonar a fé que nos resta. A boa música, a letra inteligente das canções, a voz sensível do poeta, do cantor pode trazer luz onde enxergamos escuridão; pode trazer paz, mesmo quando nos sentimos fragilizados. Foi isto que senti diante do artista, do poeta-cantor Thiago Pethit: um nome que encantou uma seleta plateia de recifenses e um coro que ecoou pelo céu noturno e chuvoso do bairro da Várzea. Esse poeta-cantor emocionou a todos e eu, aqui, continuo no meu estado de encantamento. Insisto em dizer que a música de Thiago Pethit é um presente na vida de quem vive a experiência humana.

          Sendo assim, tomo a liberdade de transcrever algumas letras que eu amo bastante e de quebra também apresento a imagem do presente que ganhei da minha filha: um CD gravado em São Paulo, entre o outono e o inverno de 2008; um CD autografado e com a riqueza das ilustrações de um piano, um violão, uma mala esperando a próxima viagem e a lembrança triste de um passarinho na gaiola. Boa sorte Thiago Pethit. Que Ñanderu acolha a sua poética caminhada em qualquer lugar do mundo. 

Graça Graúna
Nordeste do Brasil, com as chuvas de verão de 2012




Algumas composições de Thiago Pethit. Para acessar o vídeo clic  no título da música:

Não se vá
Thiago Pethit

Espero que você não se vá
Se eu não tiver nada mais para te contar
Não sei dizer, quem dirá?
Talvez numa segunda fria
Ou num domingo de sol pela manhã
É triste sim, eu sei
Duas pessoas em silêncio
Sempre dão tanto o que falar
Então me espere na terça
Ou depois de amanhã
Quem sabe?
Na quinta ou sexta, no mais tardar
Eu direi
Não se vá

Mapa-Múndi
Thiago Pethit

Me escreva uma carta sem remetente
Só o necessário e se está contente
Tente lembrar quais eram os planos
Se nada mudou com o passar dos anos
E me pergunte o que será do nosso amor?
Descreva pra mim sua latitude
Que eu tento te achar no mapa-múndi
Ponha um pouco de delicadeza
No que escrever e onde quer que me esqueças
E eu te pergunto o que será do nosso amor?
Ah! Se eu pudesse voltar atrás
Ah! Se eu pudesse voltar.