Páginas

29 novembro 2009

Recomende este livro: "Criaturas de Ñanderu"

Ilustração: José Carlos Lollo
O livro Criaturas de Ñanderu é um emocionante conto indígena escrito por Graça Graúna no qual uma garota com nome de pássaro, ao tornar-se adulta, ganha asas e sai de sua tribo para conhecer a cidade grande.
***
“Graça Graúna, educadora e descendente da etnia Potiguara, apresenta o livro “Criaturas de Ñanderu”, que conta a história de uma bela índia que teve seu nome trocado pelo de um pássaro. O livro é uma publicação da Editora Amarylis, selo editorial da editora Manole.” (http://www.meupalco.com.br/, em 6 de outubro de 2009)
***
Criaturas de Ñanderu
Editora Amarylis - um selo editorial da Manole / São Paulo

Sinopse:
Criaturas de Ñanderu, livro de Graça Grauna conta com sensibilidade e poesia uma história dos ancestrais, ouvida à noite pelas crianças da aldeia. Trata-se da história da mais bela cunhã, que teve o nome trocado por seu pai para um nome de pássaro. Um nome que se confundia com o nome de uma ávore. À noite, um velho sábio apareceu e disse a bela cunhã que ela deveria seguir esse seu destino, para proteger a ciência doseu povo, a sua aldeia, mas que deveria evitar se encantar com as belas mentiras das grandes cidades. Quando estava com seu povo, se podia perceber que os ombros dela se recobriam de uma vasta plumagem negra mas, quando saia da aldeia essa plumagem se transformava em belos cabelos negros para não atrair a atenção das outras pessoas. Assim seguia a cunhã sempre maior em graça e sabedoria, mas às vezes ela se deixava encantar pelas belas mentiras das cidades; então seu canto aparecia engaiolado...Para fugir dessa prisão, ela pensava nos grandes rios e florestas. Dizem que mesmo nos dias mais claros se vê alguns pássaros negros voando no céu azul e que quando, no frio , se vê alguma gaiola vazia, é porque um pássaro voltou para a liberdade.
Ano: 2009
Brochura32 páginas
23x23cm,
ISBN 978-85-204-3057-6

16 novembro 2009

Cartografia do imaginário

Book tree, de Salvador Dali.



...do meio da noite
ao meio do dia
o espanto do universo
retalhado em fatias
alimenta o poema
e a vertiginosa fome de vencer
o intrincado mundo das palavras
da noite ao meio dia
(a)talhos e fatias
dos muitos caminhos do mundo
alimentam
a cartografia do imaginário
do corpoema

***

Graça Graúna, Nordeste doBrasil, 16.nov.2009.

Nota: poema publicado no Overmundo.

***

Graça Graúna. Canto mestizo. Maricá/RJ: Blocos Editora, 1999, p.69. [com prefácio de Leila Miccolis].

13 novembro 2009

Enquanto houver poesia

Escultura de Demétrio Albuquerque
em homenagem a Manoel Bandeira.


Difícil saber
onde o grande amor está
quando o escuro da distância
das fronteiras
da exclusão
e do medo impede o canto
e o direito de sonhar.

Contudo
enquanto houver poesia
vale tecer o encanto
que a manhã vai chegar.

***

Graça Graúna
Nordeste do Brasil, 13 de novembro de 2009

***

Nota:
1) Pensando em Manoel Bandeira, Thiago de Melo e João Cabral, entre outros poetas
2) Poema publicado no Overmundo.

10 novembro 2009

Pelos caminhos da não-violência

Não
bastam
seus olhos 
seus ouvidos 
sua boca, 
seu coração 
suas mãos
   seus pés... 
 caminhe com humanidade 
coloque todo o seu ser 
na marcha pela paz.  
Violência, não!   

Graça Graúna, Nordeste do Brasil, 10.nov.2009
***
***
Nota: poema publicado no Overmundo

03 novembro 2009

Poesia mambembe: recordações de infância

Ilustração: ruadeletras.files.wordpress


O meu gosto pelos versos nasceu quando eu tinha seis ou sete anos, quando minha mãe leu para mim um poema a respeito de uma menina que queria ser enfermeira de Jesus. Declamei o poema num circo mambembe.
Lembro das muitas ocasiões em que eu declamava para as visitas que chegavam na pequena Hospedaria de Tia Fisa. Parte da minha infância vivi com Tia Fisa. Ela hospedava feirantes, caixeiros viajantes, romeiros e outros religiosos que acompanhavam Frei Damião e viajavam pra Juazeiro pedir chuva ao “Padrim Ciço”...
Eu sabia o poema de cor e salteado. Hoje trago na memória apenas o ritmo de algumas palavras que falavam de uma menina chamada Ritinha.
Do autor ou da autora do poema, não me recordo o nome; mas compartilho alguns trechos do poema intitulado “Enfermeira de Jesus”. Alguns versos talvez sejam parte também do meu imaginário de criança, mas vale a tentativa de registrar, aqui, o ritmo da palavra e a grande façanha de uma menina que sonhou em aliviar as dores do amigo Jesus.

Enfermeira de Jesus

Encontrando a porta aberta
Ligeirinha e muita esperta
Sem ninguém para conter
Entrou a linda Ritinha
No quarto da mamãezinha
Para tudo então mexer

Vendo em cima [lá no alto]
O Jesus crucificado
Pôs a mão no coração.

Arrastou um escada
Pegou um esparadrapo
Um pedacinho de trapo
Um copo d’água e algodão

(...)

Quando a mãe entrou no quarto
Brigou com a linda Ritinha
Que foi descendo a escada

E logo assim respondeu:
Veja mamãe como eu sei
Pois eu sozinha curei
Todo dodói de Jesus


Nas minhas constantes viagens entre o Agreste e o Litoral pernambucano, aqui e acolá avisto um circo mambembe. Na semana passada, vi um circo bem pobrezinho na beira da estrada e logo veio à memória um dos momentos especiais da minha infância, quando declamei “Enfermeira de Jesus” no maior circo que apareceu no meu lugarejo; hoje tenho noção que não parecia tão grande assim, mas era o maior circo de todos os tempos na minha recordação de infância.
Lembro até do vestido que eu usava: era branco, bordado, laço na cintura. Lembro até dos carões que eu levava pra pentear os cabelos e minha mãe dizia: como pode uma menina com uma roupa tão bonita declamar um poema com os cabelos despenteados? Mas não adiantava reclamar. Só sei que ainda guardo o cheiro da brilhantina na minha franja; lembro da luz meio laranja sobre mim no picadeiro. Eu, sentadinha em um banco colorido, toda prosa e ciente que todos naquela noite de sábado ouviam minha voz miúda no auto falante da cidade.
Foi assim que dei conta do senso poético ao declamar sobre a liberdade de uma porta aberta e nessa direção a palavra mambembe sem ninguém para conter.

Graça GraúnaNordeste do Brasil, 3 de novembro de 2009
Nota: publicado no Overmundo.