Foto: Roberto Tavares, com direção e arte do educador Agostinho Jessé
UMA EXPLICAÇÃO NECESÁRIA: durante a Semana dos Povos Indígenas 2008, tive a alegria de reencontrar pessoas amigas durante um Ciclo de Debates no Teatro do Arraial, lá na Rua da Aurora, Recife, onde fiz a abertura do evento Ciclo de Debates de Cultura e História Indígena, a convite da Professora Magdalena Almeida (UPE) e dos amigos da Casa do Carnaval. Isto aconteceu no dia 22 de abril, à tarde; no intervalo para um cafezinho, encontrei Teresa Amaral e Roberto (Fundarpe); este último relembrou com entusiasmo da Carta de Garanhuns que fizemos no Fesival de Inverno de 2003, quando coordenei a Primeira Oficina de Literatura Indígena. Tivemos participação de diferentes etnias: payaya, fulni-ô, potiguar, xukuru e mais um monte de gente bonita e guerreira que foi se juntando em prol de uma consciência étnica. A carta foi lida pelo poeta baiano Geraldo Maia, no encerramento do festival, no Parque Euclides Dourado. No palco, ficamos de mãos dadas: os poetas Ademario Ribeiro, Geraldo Maia e Juvenal Payaya que vieram da Bahia, e eu. Nesse ritmo também subiu ao palco o amigo Roberto e mais os coordenadores da oficina Ubanga Dikila: Banquete Cultural. Vale lembrar que antes do encerramento, juntamos nossas forças na comunidade quilombola do Castainho; lá, os encantados negros e índios tocaram nosso espirito para dançar o toré e plantar uma gamileira que, hoje, está bem frondosa; pertinho dela se vê e se sente a força do diálogo entre diferentes etnias. Quem for lá em Castainho, perto da gameleira, verá uma placa onde se lê, sem hífem, um nome que criei/sugeri para selar a nossa identidade: indígena e afrodescentente. E foi tanto choro de alegria na hora de plantar a gameleira, que veio uma chuvinha fina como sinal de aprovação da Mãe Natureza que guiou a todos(as) nós naquela sagrada manhã de 17 de julho de 2003, na terra das sete colinas, chamada Garanhuns. Assim, sem mais delongas, vamos à carta com saudações a todos os povos, para marcar a nossa presença no planeta (Graça Graúna)
CARTA DE GARANHUNS
Nós, abaixo assinados, reunidos na cidade de Garanhuns, Pernambuco, Brasil, durante o XIII Festival de Inverno de Garanhuns - 2003, comunicamos a todos os povos do planeta que o aprofundamento e a ampliação da consciência da identidade indígena e afrodescendente é a principal contribuição dos povos excluídos no processo de construção de um pensamento capaz de responder de forma efetiva e definitiva às questões relativas à sobrevivência e evolução dos povos que habitam atualmente o planeta.
Outra contribuição importante é a imediata articulação dos diversos setores organizados da sociedade no sentido de viabilizar as seguintes proposições:
1 - organizar acervos de literatura indígena e afrodescendente nas escolas, nos diversos níveis de aprendizado, incentivando na escolha dos livros escolares indígenas, africanos e seus descendentes;
2 - propiciar a aquisição de periódicos abordando a causa indoafricana para bibliotecas e escolas públicas;
3 - promover capacitações para educadores em torno da cultura indígena e afrodescendente;
4 - promover projetos, oficinas e seminários de intercâmbio cultural, ministrados por indígenas e afrodescendentes, buscando a inclusão do pensamento ancestral no cotidiano das escolas;
5 - incorporar a consciência ecológica indoafricana nas discuções e resoluções relativas ao meio ambiente;
6 - inventariar o patrimônio material e imaterial indioafrobrasileiro.
A importância desses aspectos ficou evidenciada ao longo dos trabalhos realizados pela oficina de Literarura Indígena Contemporânea no Brasil e a oficina Ubanga Dikila: Banquete Cultural.
Saudações amorosas a todos os povos!
Garanhuns, 17 de julho de 2003.
Nossa, Graça! Achei que a iniciativa foi oportuna, e relembrar este fato, tem uma importância capital, à medida em que contribui para sedimentar a cidadania brasileira. Aposto no reconhecimento da diferença como instrumento de desocultamento da existência oprimida. Esta é, a meu ver, a verdadeira desconstrução tão propalada na pósmodernidade. Xero.
ResponderExcluirNo orkut, o amigo Marco Matos (MT) deixou o seguinte recado:
ResponderExcluirOla Graça, td blz? Eu to descobrindo seu blog ainda, mas de cara adorei seu texto sobre consciência etnica! A Ane tinha razão sobre vc...rsrs. Adorei conhece-la.
Oi querida amiga!
ResponderExcluirMuito boa a idéia de publicar no teu blog a carta de garanhuns e comentá-la. Ela merece isso, no mínimo. Você sabe q eu realmente penso isso! Paz! Beijo. Madá
Recebi dde Juvenal Teodoro, da etnia payaya (BA), o seguinte comentario no Yahoo, junto ao grupo de literatura indígena:
ResponderExcluirEste Relato ainda me comove. A satisfação maior é ter participado diretamente como sujeito da ação histórica, aquele foi um aravilhoso encontro onde Dr. Graça Graúna coordenou de forma serena e espiritualmente em grau superior a I Oficina de Literatura Indígena de Garanhuns. Lembrar que fomos signatário da "Carta de Garanhuns", boa lembranças dos irmãos fulni-õ. Não é coincidência que hoje os povos Payayá estão preparando seu primeiro encontro definidor das etapas para o reconhecimento. Parabéns para a mestra Graúna que persiste nesta luta cultural sem fim.
Juvenal Payayá
Do poetamigo Walter Ramos, um recado no yahoo:
ResponderExcluirGostei bastante, Graúna!
Sempre passo lá na sua página.
Gostei do reencontro c tereza amaral! Gosto dela devers tb!
Bjoss e Boa semana! Walter
Do poetamigo indigena Ademario Ribeiro, um recado no Yahoo, junto ao Grupo de Literatura Indígena:
ResponderExcluirPois é Graça e demais da Lista:
Queria estar com mais tempo agora (vou fazer uma viagem para tratar de assuntos ambientais em nosso Estado. Por outro lado, creio que já fiz um relato logo após este episódio que enraizou mais fundo em cada um de nós naquela oportunidade memorável!!! Houve choros, gritos, transes, poesias veementes, abraços efusivos, comoção geral, chuva e sol, e pés fundos no chão de Castainho dançando e cantando os cantos dos dos descendentes das Terras Brasilis e dos descendentes de Mama África! Era possível sentir as forças da natureza e dos ancestrais ali! Era! Era! Era, sim!!!
Os tambores, os seus tocadores e tocadoras. Os artistas e os pajés. Os professores e os alunos. Os índios e os quilombolas. O povo em geral, ali, presente ante a árvore. Diante de Zumbi, Acoritene, Sepé e Marçal. Tuyra Kayapó e Graça Graúna (irmã, mestra e doutora que com entranhas, sangue, persistência trouxe o porantim dos Povos Indígenas com toda a dimensão da sua resiliência! Penso e argumentaria quantas vezes sejam necessárias: poucas vezes o Brasil viu um evento étnico (unindo índios e quilombolas e seus afins das matrizes indioafrolatinas) com tal projeção cultural e espiritual!
Viva! Viva! Viva!
Ademario Ribeiro
...mais um recado de minha querida amiga Magdalena Almeida, no orkut:
ResponderExcluirDigo q li e gostei do seu texto, muito! Especialmente das questões para discussão. Que orgulho de ser sua amiga!
Fiquei curiosa sobre a discussão, a reação das pessoas, a freqüência. A gente conversa. Lamento não ter podido comparecer. Beijo, Madá
direto do orkut, um recado da querida Marcia Cruz:
ResponderExcluirGostei da carta, ainda não tinha viajado pelo teu blog! É bem convidativo! Saudações nortistas!
Comentário do poeamigo Marco Bastos, no site Overmundo:
ResponderExcluirOlá, Graça, mais um trabalho bem redigido, relatando o esforço que vem sendo feito para conservar e estimular a produção cultural das diversas etnias. Encontrar a História Oficial e a documentação pertinente não é difícil (ou parece não ser). No entanto, sem analisar a História simultânea de diversos outros agentes que interagiram em todos os momentos da vida de um país, o registro histórico não fica completo. Interessa que se conheça a História em sua plenitude. Para isso, diante da falta de fontes incontestes, e também porque com freqüência essa História se transmite oralmente, necessário o trabalho intenso de pesquisa, recorrendo-se até a depoimentos e testemunhos. A falta de documentação ou foco não podem revogar a História. Não sei se essa forma de reencontrar a História foi o objetivo de Lucien Fèbvre e Marc Block, ao, nos Anales, desenvolverem as bases para a "Nova História". Para se ter uma História mais completa, fracionam o "objeto" da História, para compor fragmentos que ficaram à margem da História Oficial.
Aprendi essas coisas com meu filho Gustavo, formado e apaixonado em e por História, mas não sei se fui bom aluno. rs. Vou pedir a ele que me corrija se for o caso. rs.
Parabéns.
abraços.
Marco.
Marco Bastos · Salvador (BA) · 29/4/2008 21:30
Graça, querida Graúna, parabéns pelo texto e pela publicação da Carta.
ResponderExcluirSabe, dia desses estava falando com o Selmo Vasconcellos sobre a importância da biblioteca...e o que me veio à mente foi esse exercício de cidadania, que só pode existir a partir da consciência de que somos e devemos ser capazes de reger nossas vidas. E como desenvolver essa capacidade? A partir de nossa realidade, não da realidade distante de nós, que nem ao menos conhecemos. Por que construir conhecimento se torna tão difícil? Exatamente porque muitos "educadores" ainda tentam impor conhecimento baseado em verdades não aplicáveis à história de vida de um povo.
Um beijo enorme, com carinho,
Márcia
Pois é Graça e demais:
ResponderExcluirQueria estar com mais tempo agora (vou fazer uma viagem para tratar de assuntos ambientais em nosso Estado. Por outro lado, creio que já fiz um relato logo após este episódio que enraizou mais fundo em cada um de nós naquela oportunidade memorável!!! Houve choros, gritos, transes, poesias veementes, abraços efusivos, comoção geral, chuva e sol, e pés fundos no chão de Castainho dançando e cantando os cantos dos dos descendentes das Terras Brasilis e dos descendentes de Mama África! Era possível sentir as forças da natureza e dos ancestrais ali! Era! Era! Era, sim!!!
Os tambores, os seus tocadores e tocadoras. Os artistas e os pajés. Os professores e os alunos. Os índios e os quilombolas. O povo em geral, ali, presente ante a árvore. Diante de Zumbi, Acoritene, Sepé e Marçal. Tuyra Kayapó e Graça Graúna (irmã, mestra e doutora que com entranhas, sangue, persistência trouxe o porantim dos Povos Indígenas com toda a dimensão da sua resiliência! Penso e argumentaria quantas vezes sejam necessárias: poucas vezes o Brasil viu um evento étnico (unindo índios e quilombolas e seus afins das matrizes indioafrolatinas) com tal projeção cultural e espiritual!
Viva Graça, a Graúna! Viva o Banquete! Viva os ancestrais!
Ademario Ribeiro - ONG ARUANÃ