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28 outubro 2007

Sarau


Relançamento do livro TEAR DA PALAVRA, poemas de Graça Graúna. Dia do sarau: 07/11/07, às 19:00h, no salão de recepções do Mosteiro de São Bento, em Garanhuns; próximo a Praça Guadalajara. Sarau organizado pelo 8º período de Letras/UPE. Contato: Ir. Basílio, Ir. Marcos e Ir. Tomás Fone: (87) 3761-1592.
Nesse livro, um dos poemas é dedicado à Florbela Espanca:

Escritura ferida

Atiram mil pedras
na charneca em flor.

Ossos do ofício:
no mais fundo do poço
retirar o poema
encharcado de mágoas

23 outubro 2007

Da Serra dos Ventos para as nossas estantes

É muito gratificante para uma educadora reconhecer as marcas de sua teimosia, de suas exigências, dos ideais libertários, do respeito às diferenças; especialmente as marcas do direito de sonhar que passam a fazer parte da vida de alunos(as) e ou de ex-alunos(as), sobretudo quando enveredam pelo difícil, porém gratificante, caminho das Letras.

Porque é difícil o caminho, nunca é demais saudar os nomes que habitam as nossas estantes e que são parte de nossa alma: João Cabral, Drummond, Cecília Meireles, Quintana, Bandeira, Leminsk, França de Recife, Roland Barthes, Cervantes, Camões, Lorca, Umberto Eco, Alberto Manguel, Cloves Marques e uma infinidade de argilas pensantes que influenciam no jeito de ser e de viver.

Com licença, saúdo um nome que vem lá da Serra dos Ventos: um lugar encravado em Belo Jardim, Pernambuco, Nordeste do Brasil. Trata-se de Robervânio Luciano: um leitor atento, um guardador de sonhos que, em março de 2006, compartilhou de minhas reflexões sobre “hai kais” no Curso de Pós-Graduação em Língua Portuguesa e suas Literaturas, junto à Universidade de Pernambuco (UPE) Campus de Garanhuns e à Faculdade de Belo Jardim (FABEJA).

Numa conversa informal, nos intervalos das aulas, sugeri algumas leituras; a começar pelo mestre Bashô. Na ocasião, eu estava relendo (no original) 365 haicais de sol e chuva, do haijin Cloves Marques. Não conversamos sobre a vida do poeta, mas como o poeta fala da vida; de como o leitor também pode ser um grande observador (e por que não dizer, guardador do tempo?) a tal ponto, que 365 dias não bastem para falar de poesia, história, desigualdades sociais, morte, vida, direitos humanos, cidadania, identidade...Eis alguns exemplos da poética de Cloves Marques:

Bem a luz do dia,
a fome assalta o homem.
A justiça espia.

Uma cuia d’água
à sombra do umbuzeiro,
o sol tudo espreita

Olhares-lamentos.
Ah! A boca da caatinga
come os pensamentos

Sim, pescar siri
no mangue, com Deus por todos,
cada um por si.

Um canto pungente.
O caçador viu o ninho,
visão inclemente.

Ribaçã à venda.
Na feira do tira-gosto
mera encomenda.

O riacho vai
com recados para o rio,
ao mar, um haicai.


Então, foi desse modo que surgiu um quase-roteiro que ora se transforma em importante contribuição de Robervânio à pesquisa literária; um estudo da literatura nordestina metamorfoseada em “hai-kais”. Por isso, cabe enfatizar que é, para mim, um prazer renovado o ato de refletir o ser e a poesia (de sol e chuva) em Cloves Marques.

Graça Graúna
Nordeste do Brasil

16 outubro 2007

Cantares

Imagem: Interpoética
para Alberto Cunha Melo (in memorian)


...todos emigram.
Nessa direção,
um pássaro de asas largas
ganha a imensidão do tempo.

Graça Graúna

14 outubro 2007

Canción peregrina*

Foto: Graça Graúna
I
Yo canto el dolor
desde el exilio
tejendo un collar
de muchas historias
y diferentes etnias

II
Em cada parto
y canción de partida,
a la Madre-Tierra pido refugio
al Hermano-Sol más energia
y a la Luna-Hermana
pido permiso (poético)
a fin de calentar tambores
y tecer un collar
de muchas historias
y diferentes etnias.

III
Las piedras de mi collar
son historia y memória
del flujo del espírito
de montañas y riachos
de lagos y cordilleras
de hermanos y hermanas
en los desiertos de la ciudad
o en el seno de las florestas.

IV
Son las piedras de mi collar
y los colores de mis guias:
amarillo
rojo
branco
y negro
de Norte a Sur
de Este a Oeste
de Ameríndia o Latinoamérica
povos excluidos.

V
Yo tengo un collar
de muchas historias
y diferentes etnias.
Se no lo reconocem, paciência.
Nosotros habemos de continuar
gritando
la angustia acumulada
hace más de 500 años.

VI
Y se nos largaren al viento?
Yo no temeré,
nosotros no temeremos.
Si! Antes del exílio
nuestro Hermano-Viento
conduce nuestras alas
al sagrado circulo
donde el amalgama del saber
de viejos y niños
hace eco en los suenos
de los excluidos.

VII
Yo tengo un collar
de muchas historias
y diferentes etnias.


*um poema do livro Tear da Palavra, de Graça Graúna.
Nota: no site Overmundo, este poema recebeu 152 votos

12 outubro 2007

Pelo Dia da Criança*


Quem disse que saudade não se mede?
Minha saudade é assim:
maior que as tranças de Rapunzel,
maior que um monte de areia do mar,
bem maior que o mundo


(*)a menina da foto sou eu, aos 12 anos, aluna do Colégio das Damas, em Recife.

09 outubro 2007

Horas-cheias


nossos passos ecoam
no frêmito de asas
a poesia vem e vai
se alastrando
como quer a natureza:
gruta
sol-ponteiro
arrepio de corpos
em meio a passarada

(Graça Graúna)
Nota: no site Overmundo, este poema recebeu 151 votos.

02 outubro 2007

Legado


A grande lua de fogo
revelou a sua face agréstia
e, vagarosamente, foi indo...
gravitando na incandescência

A grande lua de fogo
trouxe um véu de estrelas;
veio com o vento da noite
e não espantou a neblina.

Na agrestidade do ser
cavamos os sonhos
contra a desesperança
que circunda as nossas vidas


Nordeste do Brasil, set. 2006
Graça Graúna

Nota: no site Overmundo, este poema recebeu 200 votos.