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09 dezembro 2014

...no Natal, no Ano Novo, sempre...



Com os meus alunos,  visitei o Gabinete Português de Leitura, em Recife; em seguida, fomos ao Marco Zero e à livraria, onde fotografei uma árvore com as obras de Saramago. Abraços, Graça Graúna

07 dezembro 2014

Com os direitos humanos



Imagem da contracapa do livro "ABC dos direitos humanos".

          Para não esquecer o dia 10 de dezembro, data em que se comemora a Declaração Universal dos Direitos Humanos e que neste ano de 2014 completa 66 anos; tomo a liberdade de sugerir algumas leituras a fim de que possamos construir um mundo cada vez mais justo e feliz.
          Um mundo feliz pode ser construído desde cedo, pelo menos é o que  sugere a união da palavra e da imagem destinada as crianças no livro "ABC dos direitos humanos” (Cortez Editora, 2012), escrito por Dulce Seabra e Sergio Maciel, com ilustrações de Albert Linhares. É desejo dos referidos autores que as crianças de ontem e hoje tenham seus direitos respeitados e que vivam plenamente em liberdade e paz. Na perspectiva de A à Z,  as letras trazem a dinâmica relação entre direitos e deveres.



          Entre os verbetes, E de Escravidão mostra que “nenhum ser humano pode ser mantido como escravo ou em situação de serventia” (p.16).  F de Fraternidade diz que “todos os seres humanos devem agir com espírito de fraternidade, ou seja, como irmãos, já que fazemos parte de uma grande família” (p.18).  Em H de Honra, “todo ser humano tem o direito de ser respeitado, não sofrendo ataques à sua honra, nem interferências em sua vida privada” (p.22).  O verbete Justiça alerta que “a igualdade de tratamento e a dignidade de todos os seres humanos são garantidas pela justiça” (p.26). X de Xenofobia fala do “comportamento dos que não gostam de pessoas e coisas de outros países, levando a incompreensão, conflitos e guerras” (p.54). Y de Yvypóra é a palavra indígena guarani para significar ‘seres humanos’. O livro informa que Guarani é também uma das 350 línguas em que a Declaração Universal dos Direitos Humanos foi traduzida.

          No campo dos direitos humanos, outras obras destinadas ao publico infantil ganham relevo, a exemplo dos livros escritos por Claudia Werneck. Preocupada com a falta de mais informações sobre o tema, Werneck escreveu, para os leigos, em 1992, o livro Muito prazer, eu existo. Pela abordagem em torno do direito de ser diferente e do respeito às diferenças, esse livro é considerada pelos especialistas como uma das obras brasileiras mais completas a respeito da chamada síndrome de Down. Três anos depois, a escritora Werneck demonstra, mais uma vez, seu compromisso com a inclusão ao publicar Um amigo diferente? (1995); um livro que trata da aventura humana, especificamente de crianças que vivem em meio a diabetes, doenças renais, alergias e outros problemas. Em 1998, por sua dedicação ao estudo da síndrome de Down, Claudia Werneck recebeu o título de Jornalista Amiga da Criança pela Fundação Abrinq e pela Agência de Notícias dos Direitos da Infância. Em 1999, contrariada também com o uso e o abuso que se faz em torno da palavra todos, ela publica Sociedade inclusiva: quem cabe no seu TODOS? (1999). Para a UNICEF e à UNESCO, Meu amigo Down, na rua (2004) faz parte de um conjunto de leituras indispensáveis a quem deseja enveredar pelos difíceis caminhos em prol dos direitos humanos e entender, entre outras questões, conceitos como: cidadania, sociedade inclusiva, respeito, diferenças.



          Outro livro importante: Direitos humanos em movimento (Edupe, 2011). Traz artigos, ensaio fotográfico, oficinas, poemas, resenhas e relatos da experiência de alunos e professores universitários no agreste pernambucano, tendo como linha de pesquisa a relação entre literatura e direitos humanos.  Um trecho da apresentação do livro sugere que:

Uma experiência tem sempre a companhia do sujeito, ou melhor, de muitos sujeitos. Daí só podermos contá-la em conjunto porque se trata de histórias que vivemos na companhia do outro. Vocês devem estar se perguntando: mas a experiência não é individual? De fato, ela carrega o modo singular de estar no mundo e, para nós, carrega também o modo coletivo de estar com o mundo. Essa condição de humanidade que envolve a todos que trabalham com os Direitos Humanos é prova da inseparabilidade entre pensamento e ação. Partilhar a experiência de muitos outros a tantos outros, significa que podemos conversar numa grande roda. Ela foi organizada para que crianças, jovens ou adultos de diferentes etnias, no campo ou na cidade, nas escolas, universidades, associações ou em diferentes espaços possam sentir-se acolhidos em seus desejos. O importante é que, neste livro, a escrita de artigos e relatos atravessou o tempo e o espaço e os distintos modos de fazer e perceber-se humano (GRAÚNA; CARVALHO; SANTOS, 2011). 



          Mais uma sugestão de leitura: Mini Larousse dos Direitos da criança (Larousse Junior, 2005). Muitas leituras são necessárias, pois trata-se também de uma tema de referencia aos pais, a educadores e a todos que acreditam que é sempre hora de fazer valer também o Estatuto da criança e do adolescente, o direito de todos.  
         Sendo assim, cabe lembrar que não estamos mais na Idade da Pedra; quando os mais fortes dominavam os mais fracos. Se os mais fortes insistem em mandar no mundo, tem gente ‘miúda’ que pensa ‘grande’, pensa em direitos iguais, pois gente miúda também quer a paz no mundo.

Nordeste do Brasil, 7 de dezembro de 2014
Graça Graúna

06 dezembro 2014

Flor da mata: poesia indígena




“Ô caboclo lindo
Que anda fazendo aqui?
Eu ando por terra alheia
Procurando por minha ciência.”
(Canto Kariri-Xocó)

          À luz do canto Kariri, nem é preciso dizer que o cantar acompanhado de um pisar forte ao som das maracas faz do toré uma ciência. Essa manifestação sagrada está no ser e no viver dos indígenas da Região Nordeste. Sua poesia vem dos ancestrais e se alastra como um bem precioso na mente e no coração dos Filhos da Terra; uma ciência que dá resistência, mesmo quando o ser indígena se vê meio deslocado em terra alheia.
          Entre os Xukuru de Ororubá (Pesqueira/PE), por exemplo, o toré ganhou novos significados a partir da liderança do Cacique “Xicão”; novos significados ou um toque mais moderno que algumas mulheres do povo Xukuru revelam ao enfeitar os seus trajes e adereços com flores, de maneira que isso não as impede de usar vestimentas feitas da palha de milho, da palha de coco e das penas de aves; pois este é um costume que vem dos antepassados.
          Minha intuição diz que a flor - entre os adereços agora presentes no toré - sugere ao mesmo tempo a leveza e a força que vem da Mãe-Terra; leveza e força que o “haijin” (fazedor de haikai) também necessita parao haikai acontecer. Pensando assim, espero que este livro seja também veículo de comunicação entre os amantes da poesia, pois enquanto houver poesia existirá comunicação entre os “encantados” e os participantes do Toré.
          O segundo motivo que me levou a escrever esta pequena apresentação remete à boa lembrança que eu guardo do ensaísta Antonio Fernando Viana, do qual fui aluna na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), onde ele ministrou Literatura Comparada nos Cursos de Pós- Graduação em Letras. Recordo das muitas vezes em que ele me convidou a participar dos encontros e/ou caravanas literárias que ele organizou junto ao Núcleo de Programas Educacionais e Culturais (NUPEC/UFPE). Sendo assim, ao abrigo das boas palavras de Antonio Viana, tomo a liberdade de transcrever, aqui, um fragmento da resenha que ele fez acerca do meu livro “Canto Mestizo” (1999); essa resenha consta dos Anais do “I Encontro de Cultura Nordestina: do aboiar do vaqueiro à cadência do frevo”, realizado em 2000, na FABEJA, em Belo Jardim (PE).
         Faz alguns anos que Antonio Viana nos deixou, mas a saudade fica de tal forma que as suas palavras dão mostra do ser sensível que compartilhou a riqueza de sua alma para aproximar os possíveis leitores dos meus quase haicais. Que assim seja e com a palavra, Antonio:

[..] Tentarei expressar nestas palavras minha surpresa e meu encanto ao descobrir a poesia de Graça Graúna [...] vemos a autora mostrando- se como um haijin (poeta de haicai), unindo simplicidade, sensibilidade e sabedoria, em poemetos concisos, em três versos, como o faziam os antigos haicaístas. Fiel à estética e aos princípios desta forma poética, a autora cristaliza a instantaneidade do momento, a transitoriedade do sentimento, assim como a fugacidade do tempo através de imagens do dia, palavras, cores e sons do cotidiano, da maneira mais simples possível, como deve realmente ser um belo e autentico haicai. Aqui captamos toda a emoção, a sensação e o sentimento da poetisa apresentados como uma espécie de convite a um diálogo e encontro maior com a sua poesia [...] (VIANA, 2000, p. 85-86).

Nordeste do Brasil, abril de 2014 
Graça Graúna




GRAÚNA, Graça. Flor da mata. Belo Horizonte: Penninha Edições,  2014.
ISBN: 978-85-67265-08-7

1. Poesia brasileira. 2. Poesia indígena.
Ilustração: Carmen Barbi
Capa: Letícia Santana Gomes

Contato: teardapalavra@gmail.com