Direito Autoral

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23 agosto 2019

.. um olhar sobre a Amazônia em chamas


… nem sempre consigo dizer o que sinto, quando me vejo diante de uma situação-limite. Continuo me perguntado sobre o que está acontecendo em nosso país. Ando pelas ruas e vejo grupos de pessoas trajando preto e percebo uma multidão de rostos tristes, em pânico.  Um luto se alastra semelhante as chamas que devoram a nossa Amazônia. O que estou sentindo neste momento, agora, é uma sensação de impotência e me pergunto: o que devemos fazer para não perder o foco na esperança de que continuaremos fortes e que seremos capazes de resistir a tantos horrores?  Enquanto caminho, vem o desejo de alargar os passos pra chegar em casa e acalentar meus filhos, os netos, abraçar amigos e vizinhos. Bom seria que as labaredas da ganância, do egoísmo, da inveja e da vaidade não interrompessem os nossos sonhos! Fico torcendo para não queimarem mais a floresta e nem tingirem de vermelho o céu da Amazônia. Chega! Apesar dos tempos sombrios, entro em casa e as mensagens me chamam: algumas trazem esperança, outras falam da raiva, do medo de viver um tempo tão difícil.  As mensagens chegam em forma de poema e a poesia, apesar dos horrores desses dias, revela que devemos manter o foco na sede de viver; que precisamos continuar atentos e fortes, como quer a canção. E é nesse ritmo, que distendo minhas asas, meu abraço de mulher, mãe, avó indígena a todos que acreditam na força da “Mata” como sugere o olhar do poet’amigo Devair. 

                  Com abraçares, Graça Graúna


Foto: df

poema de Devair Fiorotti



Mata

largue tudo
esqueça tudo
mate tudo

assole
dilapide
abata
acabe
aflija
alhane
aniquile
anule
o macaco na mata a maloca na mata a orquídea na mata
a sumaúma na mata o caminhar na mata o cocar
na mata o caiçara na mata o ribeirinho na mata
mata mata mata mata mata

arrase
arruíne
aterre
bombardeie
atire
ceife
cerceie
consuma
deprede
o olhar da mata o silêncio da mata o cheiro da mata
o verde da mata a beleza da mata a alegria e viso da mata
o canto da mata o respirar da mata o gosto da mata
mata mata mata mata mata

queime tudo
lasque tudo
foda-se tudo

metáforas, vida pra quê