Direito Autoral

Desrespeitar os direitos autorais é crime previsto na Lei 9610/98.

31 dezembro 2015

Nada de novo e tudo de novo


REINVENÇÃO


Nascer do sol, de Monet


A vida só é possível
reinventada.

Anda o sol pelas campinas
e passeia a mão dourada
pelas águas, pelas folhas...
Ah! tudo bolhas
que vêm de fundas piscinas
de ilusionismo... — mais nada.

Mas a vida, a vida, a vida,
a vida só é possível
reinventada.

Vem a lua, vem, retira
as algemas dos meus braços.
Projeto-me por espaços
cheios da tua Figura.
Tudo mentira! Mentira
da lua, na noite escura.

Não te encontro, não te alcanço...
Só — no tempo equilibrada,
desprendo-me do balanço
que além do tempo me leva.

Só — na treva,
fico: recebida e dada.

Porque a vida, a vida, a vida,
a vida só é possível
reinventada.

(Cecília Meireles)

27 dezembro 2015

Por um 2016 de tolerância e paz.

Que seja 2016 um ano de mais Inclusão, Diversidade, Tolerância e Paz.



Desenho em nanquim sobre papel de Graça Graúna, de 1981.

25 dezembro 2015

A viagem do Sol




Dezembro 25

                                                    A viagem do Sol

Jesus não podia festejar seu aniversário, porque não tinha dia de nascimento.
No ano de 354, os cristãos de Roma decidiram que ele havia nascido no dia 25 de dezembro.
Nesse dia, os pagãos do norte do mundo celebravam o fim da noite mais longa do ano e a chegada do deus Sol, que vinha para romper as sombras.
O deus Sol tinha chegado a Roma vindo da Pérsia.
Era chamado de Mitra.
Passou a se chamar Jesus.

(Eduardo Galeano. Os filhos dos dias. 3.ed.  Porto Alegre, RS: L&PM, 2014, p. 403)

17 novembro 2015

O Rio Doce na poesia de Drummond

Poema de Drummond sobre o Rio Doce, que circula em redes sociais, nunca foi publicado em livro


Publicado em 1984 no jornal Cometa Itabirano, a citação não chegou a ganhar versão em livro, o que levou alguns a duvidarem da sua autenticidade

Fonte: Carlos André Moreira
17/11/2015

Foto: Reprodução / Facebook
Começou com um texto assinado pela jornalista Mariana Filgueiras no jornal O Globo deste fim de semana. Ao recuperar obras literárias e musicais que já haviam abordado a paisagem e as águas do agora destruído Rio Doce, a reportagem evocava, entre outras canções, versos e trechos de prosa, um poema de Carlos Drummond de Andrade (1902-1987), Lira Itabirana, que logo, fotografado diretamente da edição do jornal, tornou-se viral devido ao caráter "profético" de suas palavras:

I
O Rio? É doce.
A Vale? Amarga.
Ai, antes fosse
Mais leve a carga.

II
Entre estatais
E multinacionais,
Quantos ais!

III
A dívida interna.
A dívida externa
A dívida eterna.

IV
Quantas toneladas exportamos
De ferro?
Quantas lágrimas disfarçamos
Sem berro?

Publicado em 1984 no jornal Cometa Itabirano, o poema não chegou a ganhar versão subsequente em livro — o que levou alguns portadores de antologias de poemas do autor a, em um primeiro momento, duvidar da autenticidade da citação, mas os versos são mesmo de Drummond.

Escrito em um período em que a dívida externa era um fantasma no horizonte de qualquer tentativa de crescimento no Brasil, Lira Itabirana, com versos curtos e diretos que buscam inspiração nas quadras da poesia popular, faz a comparação entre a atividade mineradora incessante e lucrativa e a dívida "eterna" do país, pouco aplacada mesmo com as toneladas de ferro exportado.
Apesar do aparente tom antecipatório, ele apenas reitera alguns elementos com que o poeta mineiro trabalhou ao longo de toda sua carreira: crítica social e política aliada à evocação nostálgica de uma Minas Gerais que já não existia. Lira Itabirana é apenas um dos exemplos de poemas nos quais Drummond refletia, entre melancólico e alarmado, com os efeitos da mineração em seu Estado natal. Qualquer deles, agora, poderia ser relembrado com o mesmo caráter assombroso.

Não é de estranhar que Drummond fale da Vale em Lira Itabirana. Ambos são conterrâneos. Itabira, a cidade a 104 quilômetros de Belo Horizonte em que Drummond nasceu, em 1902, foi a mesma em que surgiu a Companhia do Vale do Rio Doce, em 1942. Antes disso, nos séculos 18 e 19, a cidade já havia passado por ciclos de mineração de ouro, em pequenas empreitadas sustentadas principalmente por mão de obra escrava. O ouro na região, contudo, era menos abundante do que em outras cidades mineiras, e por isso Itabira não experimentou grande crescimento econômico. O próprio Drummond identificava-se, na saudosa crônica Vila da Utopia, como um "filho da mineração", como todo Itabirano:

"Parecia-me que um destino mineral, de uma geometria dura e inelutável, te prendia, Itabira, ao dorso fatigado da montanha, enquanto outras alegres cidades, banhando-se em rios claros ou no próprio mar infinito, diziam que a vida não é uma pena, mas um prazer. A vida não é um prazer, mas uma pena. Foi esta segunda lição, tão exata como a primeira, que eu aprendi contigo, Itabira, e em vão meus olhos perseguem a paisagem fluvial, a paisagem marítima: eu também sou filho da mineração, e tenho os olhos vacilantes quando saio da escura galeria para o dia claro."

Essa situação mudou depois que a cidade passou a ser o ponto inicial do chamado "quadrilátero ferrífero", a região de extração do ferro que inclui também Mariana, além de Sabará e Ouro Preto, entre outras. A expansão mineradora, contudo, não era feita sem um preço a pagar, algo que Drummond já havia apontado em um poema de 1973. No seu livro Menino Antigo, o poeta exporia sua inquietação com os efeitos da retirada de minério da região, em A Montanha Pulverizada, poema no qual narra o desaparecimento do Pico do Cauê. Outrora cartão postal e marco do município de Itabina, o Pico do Cauê terminou reduzido a nada pela atividade mineradora:

Chego à sacada e vejo a minha serra,
a serra de meu pai e meu avô,
de todos os Andrades que passaram
e passarão, a serra que não passa.
(...)
Esta manhã acordo e não a encontro,
britada em bilhões de lascas,
deslizando em correia transportadora
entupindo 150 vagões,
no trem-monstro de cinco locomotivas
— trem maior do mundo, tomem nota —
foge minha serra, vai
deixando no meu corpo a paisagem
mísero pó de ferro, e este não passa.

Anos depois, em 1984, Drummond faria outra versão desse mesmo poema e a publicaria no jornal Cometa Itabirano — o mesmo no qual saiu também Lira Itabirana.

Em O Maior Trem do Mundo — mais tarde compilado em Poesia Errante, Drummond repete o mote do trem que leva embora não apenas a riqueza mineral extraída da terra, mas a própria terra e seu coração. O poema foi escrito em uma época em que a economia de Itabira já começava a dar mostras de colapso, sem que a cidade tivesse se beneficiado da riqueza gerada pelo empreendimento. O poema de Drummond aborda, com melancolia, a possibilidade de esgotamento dos veios minerados na cidade e seu abandono previsível quando não houver mais o que tirar do coração da terra:

O maior trem do mundo
Leva minha terra
Para a Alemanha
Leva minha terra
Para o Canadá
Leva minha terra
Para o Japão
O maior trem do mundo
Puxado por cinco locomotivas a óleo diesel
Engatadas geminadas desembestadas
Leva meu tempo, minha infância, minha vida
Triturada em 163 vagões de minério e destruição
O maior trem do mundo
Transporta a coisa mínima do mundo
Meu coração itabirano
Lá vai o trem maior do mundo
Vai serpenteando, vai sumindo
E um dia, eu sei não voltará
Pois nem terra nem coração existem mais.

De acordo com a pesquisadora Letícia Malard, autora do livro No Vasto Mundo de Drummond (Editora UFMG, 2005), a "corrosão" é uma metáfora forte e recorrente na poesia de Drummond: "uma corrosão no sentido literal, socioeconômico — a serra sendo corroída pela retirada do minério — e uma corrosão metafórica — a alma corroída do itabirano, uma vez que procura a 'sua' serra, a qual lhe parecia eterna, e não mais a encontra."

Logo, a preocupação de Drummond com os efeitos da mineração em sua região nada tinha de profética. E se agora ela surpreende, é porque, infelizmente, ninguém estava prestando atenção.



16 novembro 2015

Mais um desastre: redução do ensino da literatura na educação brasileira

ABL divulga nota manifestando preocupação
                                com a redução do ensino da literatura na educação brasileira

Fonte: Academia Brasileira de Letras
             A Academia Brasileira de Letras divulgou nota manifestando sua preocupação com a constante e gradual redução do ensino da literatura na educação do país, particularmente no ensino médio. A decisão foi tomada na sessão acadêmica ordinária.
                   Os Acadêmicos ressaltaram que a ABL, “consciente de sua responsabilidade na defesa da língua e na valorização da cultura nacional, associava-se a outras entidades, no propósito de atender o apelo da Comissão de Educação da Câmara dos Deputados, que se mostrou disposta a ouvir a sociedade sobre o assunto. A iniciativa foi da deputada Maria do Rosário (PT-RS), que propôs a realização de uma audiência pública para debater a situação da leitura e do ensino de literatura na educação básica”.
           O Acadêmico e professor Arnaldo Niskier, representando a ABL, participou da reunião na Câmara e afirmou: “Fizemos questão de externar nossos pontos de vista. Primeiro, revelando que nos falta uma clara definição sobre o que se entende por Política Nacional de Educação. Colocamos a Academia à disposição dos interessados para transmitir a sua experiência sobre projetos de defesa da língua portuguesa e da valorização da cultura nacional, conforme, aliás, consta de seu Estatuto, assinado por Machado de Assis”.
A nota na íntegra:
A LITERATURA E A EDUCAÇÃO
          A Academia Brasileira de Letras, consciente de sua responsabilidade na defesa da língua e na valorização da cultura nacional, se associa a outras entidades e atende ao apelo da Comissão de Educação da Câmara dos Deputados e vem a público manifestar sua preocupação com a constante e gradual redução do ensino da literatura na educação brasileira, particularmente no ensino médio.
          Convencida de que a escola deve desempenhar o papel de promotora da igualdade de oportunidades em uma sociedade democrática, a ABL faz questão de sublinhar que, para grande parte da população brasileira, é o sistema de ensino que tem condições de oferecer os primeiros contatos com a literatura, ao abrir caminhos para a permanência da leitura na vida do cidadão. Assim, a formação de professores, em todos os níveis, deve incluir a oportunidade de contato com a literatura, de modo a que se possam compreender a força e a importância desse legado.
          Sabedora de que as obras literárias oferecem uma possibilidade ímpar para diversificar experiências, compreender o outro, confrontar pontos de vista e alargar o horizonte de ideias, bem como refletir sobre valores e reforçar o humanismo e o pensamento crítico, a Academia Brasileira de Letras reitera que o acesso ao universo da literatura é um direito de todos os cidadãos, um patrimônio de todos os brasileiros que não pode ser subestimado.
          No momento em que se discute uma Base Nacional Comum Curricular e a Câmara dos Deputados abre o debate sobre a matéria, mais uma vez a ABL insiste na defesa da língua e da cultura nacional como patrimônio inalienável dos brasileiros, alertando para a necessidade de que não se eliminem, nem se reduzam, os espaços de acolhimento da literatura no processo educacional.
Academia Brasileira de Letras
Novembro 2015
16/11/2015

06 setembro 2015

Da humanidade levada pelas águas



Imagem extraída do Google

Da humanidade levada pelas águas

Em memória de Aylan Kurdi


Viver é perigoso,
o poeta dizia.
Assim mesmo insistimos
em fazer a travessia.
Viver é perigoso,
mas seguimos
vestidos de coragem
na ânsia de encontrar
o olhar generoso
o abraço apertado
a mão amiga
que acolham os nossos sonhos...

Em meio à travessia
a humanidade
é levada pelas águas
e tudo que me fica
é uma tênue esperança
que se alastra pelo mundo
nos sonhos do pequeno anjo
de asas partidas.

Apesar das muralhas
e dos arames farpados,
o direito à Paz nos aproxima.
Viver é perigoso,
mas insistimos....


Nordeste do Brasil, 4 de setembro de 2015

Graça Graúna

Fonte de notícias:

16 agosto 2015

O sensual em cartaz: um legado poético




Dizem que a paixão é um sentimento efêmero, mas não é o que sugere a estreita relação entre autor, texto e leitor na saga da “Editora Mulheres Emergentes”, idealizada por Tânia Diniz, em Belo Horizonte/Minas Gerais. 
A boa relação vence o tempo. Por isso, faz parte desse amor o desejo, a confiança, o senso crítico, o respeito ao outro e a coragem de expor as vozes de mulheres de diversas regiões do Brasil e tantos outros países.  Com o propósito de levar ao público uma literatura que surpreende e provoca, e dereiterar o amor e o respeito ao fazer literário, a editora transformou o jornal mural“Mulheres Emergentes: o sensual em cartaz” em instrumento de luta: pelo menos, foiisso que eu intuí quando fui convidada a colaborar com o mural: um lugar incomumpara expor minhas inquietações em torno do ser e estar no mundo; onde me reconheciem cada verso escrito por escritoras(res) que contribuíram para a boa repercussão da Editora  M.E. Nesse ritmo, a Editora acolheu a parceria dos poetas Wilmar da Silva Andrade e Flávio César de Andrade que escreveram com Tania Diniz o livro “Bashô em Nós”, Coleção Milênio. A propósito de outros nomes publicados pela M.E,  cabe sublinhar: Adão Ventura, Barbara Lia, Berenice Heringer, Eliane Accioly Fonseca, Helton Gonçalves de Souza, Hugo Pontes, Johnny Batista Guimarães, Iara Vieira, Lúcia Serra, Sandro Starling, Silvia Anspach, Teruko Oda , Vera Casa Nova, e eu mesma, entre outros.
Editora M.E: um legado poético. Vinte e cinco anos de respiração movida pela paixão, pela arte. Vinte e cinco anos de poesia e resistência no trato da palavra oriunda de homens e mulheres que reafirmam a perenidade da arte e deixam, como afirma Tânia Diniz, “a mais profunda herança: o Belo”. Em síntese, seria redundância perguntar de onde vem a força que contribui para a sobrevivência da Editora ME?

                                                    Nordeste do Brasil, julho de 2015
  

Graça Graúna 
         (Povo potiguara /RN) profa., poeta, pesquisadora

01 agosto 2015

Poesia com a Mãe Terra

Poetas indígenas de todo o mundo se unirão no México: grito da terra

"(Idiomas) nos levam a um objetivo comum: aproximar-se a Mãe Terra com vozes e canções"

Imagem extraída do site:  www.adital.com.br

Quase uma centena de poetas de diferentes povos nativos dos cinco continentes se reunirão no México, em outubro 2016 como parte do primeiro Mundial da Poesia Encontro dos Povos Indígenas, concurso que tem como objetivo ser um grito de alarme sobre a crise ambiental na planeta. 

O evento, que foi apresentado hoje no âmbito do Festival Internacional de Poesia de Medellín, visa promover um movimento artístico que sensibilizar a humanidade convocando as diferentes expressões poéticas dos povos indígenas "em uma reunião mundial de vozes de cores" de acordo os promotores.
 

E é que "a poesia é o conteúdo que chorar" da terra, explicou à Efe Juan Gregorio Regino, um dos organizadores da reunião a ser realizada entre os dias 17 e 22 de Outubro do próximo ano.
 

Regino disse que esta reunião nasceu quando um grupo de pessoas perceberam que os ensinamentos dos povos indígenas pode servir "para unir em torno de um tema central, a deterioração do meio ambiente" um problema "que nos preocupa a todos."
 

Em sua opinião, a reunião terá uma essência especial, uma vez que os povos nativos em todo o mundo, não só levantar suas vozes para exigir "seus direitos à terra ou política, mas para chamar a atenção para a humanidade deste problema global" .
 

"É muito significativo que a partir de povos indígenas para o mundo esta chamada é feita porque eles mantêm um vínculo muito próximo com a natureza, divindades ou o ambiente e são o melhor que podemos discutir esta questão", acrescentou.
 

O festival, que será apresentado em diferentes sítios arqueológicos de pré-hispânica do México, vai ser adaptado às especificidades das culturas ancestrais, onde a poesia tem um papel-chave na cultura oral que é usado para transmitir conhecimentos e tradições.
 

Portanto, os participantes encontrar "poesia nem sempre escrito," de acordo com Regino.
 

"Também vamos conhecer um conceito de poesia que quebra a tradicional ocidental, com a coordenação entre palavra, dança e música. É uma perspectiva totalitária da arte e palavras. Tem que ser algo diferente", disse ele.
 

A reunião virá 80 poetas de 20 países em todo o mundo para recitar em mais de 30 línguas, o que para Natalio Hernández, membro do conselho de organização, não é um problema, porque "um mosaico de línguas que nos trazem" é gerada.
 

Hernandez, membro do povo Nahuatl, disse à Agência Efe que as línguas faladas agora "são classificados em cada um dos países", mas "vibrar e cantar uma música juntos."
 

"(As línguas) vai nos levar a um propósito comum: aproximar-se a Mãe Terra com vozes e canções", disse ele.
 

Neste sentido, ressaltou a importância dos povos indígenas são aqueles que tomar a palavra, porque "sempre tiveram uma relação muito próxima com a terra."
 

O poeta, que também participar do Festival Internacional de Medellin, exemplificou essa relação com as pessoas que, para este dia, "ainda fazer a sua fogueira em um relacionamento direto com a terra não com estes instrumentos e equipamentos eletrônicos".
 

Isso pode ser especialmente visto na Austrália ", onde mantêm uma estreita relação com a agricultura e pastagem", que cria um vínculo muito forte, disse Hernandez.
 

Esta primeira reunião terá lugar no México, porque, de acordo com a comissão organizadora, "é um líder internacional na promoção e difusão da literatura em línguas indígenas".
 

Entre os objetivos dos promotores é consolidar o evento anualmente e tem a sua sede girar pelos países dos cinco continentes.

  
FONTE: Jornal Libre.co (República Dominicana) e José Vasquez Gaviria


28 julho 2015

Conversando sobre literatura indígena na Revista Palimpsesto

          
          
          A Palimpsesto é uma Revista do Programa de Pós-Graduação em Letras, da UERJ.  Na edição 20, a Revista Palimpsesto (UERJ) traz uma entrevista comigo. Na opinião dos editores, com a minha forma de ver e de ler o mundo, apresento um pouco do universo ameríndio. Conversamos sobre o crescimento de obras de autores indígenas no mercado editorial, a luta pelos direitos indígenas e a importância da lei 11.645/08, que torna obrigatório o estudo da história e da cultura indígenas nas escolas.
Boa leitura!
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16 julho 2015

Protagonismo indígena no Curso Dimensões no Museu do Índio

MUSEU DO ÍNDIO / RJ

quarta-feira, 15 de julho de 2015



Integrante da equipe de professores indígenas que vão ministrar as aulas do curso Dimensões das Culturas Indígenas do Museu do Índio, a escritora  potiguara(RN),Graça Graúna, falará sobre “Literatura indígena: entre lugares, memórias e utopias”. 

Com doutorado pela Universidade Federal de Pernambuco e pós-doutorado pela Universidade Metodista de São Paulo, Graúna assina diversas publicações entre as quais, “Flor da mata”(poesia),“Contrapontos da Literatura Indígena Contemporânea no Brasil”, “Criaturas e Ñanderu”. Em abril deste ano, lançou na Universidade do Estado do Rio de Janeiro, o livro coletivo “Memórias do movimento indígena do Nordeste”. Graça Graúna é também responsável pelo blog www.tecidodevozes.blogspot.com, que aborda especificamente questões indígenas.

O curso Dimensões acontece no Museu do Índio/RJ, de 20 a 31 de julho. Últimos dias de inscrições. Informe-se pelo telefone (21) 3214 8718 ou pelo email:
divulgação.cientifica@museudoindio.gov.br

Comunicação Social/ MI
15/07/2015



10 julho 2015

Poetas participam da Conferência da Poesia Mundial pela Paz da Colômbia

Fonte: Adital

          Como um evento contra a guerra e em favor da confluência das belicosas forças antagônicas na Colômbia, será realizada a II Conferência Mundial da Poesia pela Paz e a Reconciliação da Colômbia, no contexto do primeiro quarto de século do Festival Internacional de Poesia de Medellín. Organizado pela Revista Prometeo, o evento celebra-se entre 11 e 18 de julho próximos, com a presença de 90 poetas de 40 países e de convidados da academia, analistas políticos, jornalistas, agrupamentos artísticos e culturais, organizações sociais, de direitos humanos, indígenas e afrodescendentes, entre outros.

          
          Paralelamente ao 25° Festival Internacional de Poesia de Medellín (com 93 leituras de poemas) acontecem outros eventos centrais: Encontro de Coordenadores do Movimento Poético Mundial; XIX Escola Internacional de Poesia de Medellín (42 atividades); Encontro Internacional de Jovens Poetas (sete atos); Encontro de Diretores de Escolas e Oficinas de Poesia; Encontro de Tradutores de Poesia, e será apresentado oficialmente em nove atos o projeto para a celebração do Primeiro Encontro Mundial de Poesia dos Povos Originários, a ser realizado no México, no fim de 2016. Por sua vez, a programação para crianças inclui 20 atos, entre oficinas e leituras de poemas para crianças, em lugares centrais e em bairros de Medellín, com o auspício da Fundação Altamane (Suíça e Itália).

          A Conferência da Poesia pela Paz e a Reconciliação no país será celebrada sobre os eixos temáticos: Os trabalhos da poesia e da arte na criação da paz, para uma nova linguagem e uma nova cultura na Colômbia; A poesia e a arte: defesa da terra e dos seres viventes; e A poesia e o impossível realizável: ações globais para transformação da vida.

          Da Conferência (que incluirá 27 atos) farão parte destacados poetas de cinco continentes (alguns dos quais vivem duros conflitos sociais e políticos, e são peças chave nos processos de construção da paz em seus países), e oferecerão propostas realizáveis em matéria de paz e de reconciliação, desenvolvendo processos de criação com as comunidades. Para que elas recuperem sua memória e desativem os ódios, contribuindo para a materialização de uma paz justa e democrática, mais ativa e construtiva do que a guerra.

Informação bio-bibliográfica sobre os poetas convidados pode ser consultada no link:
http://www.festivaldepoesiademedellin.org/es/Festival/25/News/bios25.html
A programação do 25°Festival Internacional de Poesia de Medellín pode ser vista no link:
http://www.festivaldepoesiademedellin.org/es/Festival/25/News/Programa.html
http://www.festivaldepoesiademedellin.org/es/Festival/25/News/Programa_25FIPM.pdf
A programação completa da II Conferência Mundial da Poesia pela Paz da Colômbia pode ser apreciada no link:
http://www.festivaldepoesiademedellin.org/es/Festival/25/News/ProgramacionIICumbrePoesiaPaz.jpg

05 junho 2015

Curso Dimensões das Culturas Indígenas 2015

Encontro de escritores e artistas indígenas em Mato Grosso


CURSO DIMENSÕES DAS CULTURAS INDÍGENAS 2015
PROTAGONISMO INDÍGENA EM EDUCAÇÃO, LITERATURA E POLÍTICA
20 A 31 DE JULHO, DAS 14 ÀS 17 HORAS
CURSO MINISTRADO POR INDÍGENAS

PROGRAMAÇÃO

20/7 – SEGUNDA-FEIRA: LUIZ HENRIQUE ELOY (Terena, doutorando em Antropologia Social/Museu Nacional/UFRJ) – Terra tradicionalmente ocupada: o local de direitos coletivos;

21/7 – TERÇA-FEIRA: MARIA DAS GRAÇAS FERREIRA (GRAÇA GRAÚNA) (Potiguara, doutora em Teoria da Literatura/UFPE) – Literatura indígena: entre lugar, memórias e utopias;

22/7 – QUARTA-FEIRA: MARIA DAS DORES DE OLIVEIRA (MARIA PANKARARU) (Pankararu, doutora em Linguística/UFAL) – Ofayé, a língua do povo do mel;

23/7 – QUINTA-FEIRA: GERSEM JOSÉ DOS SANTOS LUCIANO (Baniwa, doutor em Antropologia/UnB) – Educação para manejo do mundo: o desafio da escola indígena;

24/7 – SEXTA-FEIRA: MESA REDONDA SOBRE EDUCAÇÃO E CULTURA INDÍGENA – Jera Poty Mirim (Guarani/SP), Lucas Benites Xuru Mirim (Guarani/RJ), Jucimar Paikyre (Bakairi/MT) e Algemiro Poty (Guarani/RJ);

27/7 – SEGUNDA-FEIRA: WANDERLEY DIAS CARDOSO (Terena, doutor em História/PUC-RS) – A história da educação escolar para o Terena;

28/7 – TERÇA-FEIRA: DANIEL MUNDURUKU MONTEIRO COSTA (Munduruku, doutor em Educação/USP) – O caráter educativo do movimento indígena brasileiro: o estado da arte;

29/7 – QUARTA-FEIRA: RITA GOMES DO NASCIMENTO (Potiguara, doutora em Educação/UFRN) – Panorama atual da política nacional de educação escolar indígena: perspectivas e desafios;

30/7 – QUINTA-FEIRA: TONICO BENITES (Guarani Kaiowá, doutor em Antropologia Social/Museu Nacional/UFRJ) – A trajetória e a luta contemporânea dos povos Guarani, subgrupos Mbya, Ñandeva e Kaiowá;

31/7 – SEXTA-FEIRA: MESA REDONDA SOBRE A MULHER INDÍGENA NA UNIVERSIDADE – Nelly Dollis (Marubo/AM), Simone Eloy (Terena/MS) e Sandra Benites (Guarani/RJ).

HORÁRIO DO CURSO: DAS 14 ÀS 17 HORAS.
INSCRIÇÕES A PARTIR DE 01 DE JUNHO NO MUSEU DO ÍNDIO/COORDENAÇÃO DE DIVULGAÇÃO CIENTÍFICA – RUA DAS PALMEIRAS 55 – BOTAFOGO – RIO DE JANEIRO/RJ –      CEP 22.270-070 – TEL. 21-32148718 - 
Horário de inscrição: segunda a sexta-feira, das 10:00 às 17:00 horas.
Taxa de inscrição: Profissionais – R$ 300,00; Estudante (com comprovante obrigatório) – R$ 150,00.

TODOS OS ALUNOS RECEBERÃO PUBLICAÇÕES DO MUSEU DO ÍNDIO

06 maio 2015

Quando o cotidiano vira poesia




A poesia social em Cesário Verde


 Em 25 de fevereiro de 1855 nasceu, em Lisboa, Cesário Verde. Filho de camponês, Cesário Verde ingressou no Curso Letras da Universidade de Coimbra, mas não completou seus estudos. Na década de setenta do séc. XIX, a poesia de Cesário aparece em jornais lisboetas. Por volta de 1885 ele retorna para a casa paterna para tratar da tuberculose, mas enfraquecido pela doença vem a falecer em 19 de julho de 1887.
Os estudiosos consideram Cesário “o poeta de Lisboa e da vida rural periférica, cantadas em sua pequena obra com irretocável lucidez, sensibilidade e beleza” (www.lpm.com.br). Mas a crítica literária fingiu ignorá-lo, de tal modo que o próprio poeta expôs seu desabafo: “Literariamen­te parece que Cesário Verde não existe”. 
           Apesar do preconceito em torno da sua genialidade, a poesia de Cesário Verde vence o tempo porque dá visibilidade as criaturas socialmente invisíveis; sua poesia reclama e ao mesmo tempo traz aspectos inovadores no fazer poético que situam o poeta entre os ícones  do Modernismo na literatura de Portugal.
          Há 130 anos, Cesário Verde veio ao mundo e, apesar dos sofrimentos todos pelos quais passou, deixou por meio da poesia um olhar (ao mesmo tempo) generoso e crítico; um olhar voltado para os pobres, aos marginalizados, aos excluídos.   Para homenageá-lo, convido-os a uma boa leitura acerca do “Sentimento dum ocidental”; especificamente sobre o cotidiano da poesia na reflexão de Patrícia Vilela, que foi minha aluna no Curso de Letras, na UPE.
Saudações literárias,

Graça Graúna
        


                                                      Imagem extraída do Google



Quando o cotidiano vira poesia (*)


O Realismo em Portugal foi um momento no qual a literatura passou a retratar a realidade de forma crua, desvendando os olhos da sociedade. Esse período foi influenciado pelos novos ideais políticos da época e não poderia se alimentar apenas de um mundo idealizado. Era preciso uma literatura mais objetiva e compromissada com a causa social, que pudesse agir como forma de denúncia da degradação moral que estava sendo vivida. Segundo Moisés (2001, p.167) “(...) a obra literária passou a ser considerada utensílio, arma de combate, de reforma e ação social”.
Considerando que a poesia realista se desdobrou em quatro direções, este trabalho busca analisar o poema “O sentimento dum Ocidental”, do poeta Cesário Verde, o primeiro escritor a representar a poesia do cotidiano na estética realista portuguesa e a extrair poesia de assuntos que eram tidos como não poéticos, como afirma Massaud Moisés: “(...) poesia do cotidiano, aquela que destrói a idéia de nobreza artística anterior à elaboração da obra-de-arte e introduz o prosaico no plano poético, tendo Cesário Verde como único e grande representante. (MOISÉS, 1984, p. 124-125)
O poema “O sentimento dum Ocidental” se manifesta como um filme resultado de um passeio pelas ruas de Lisboa, no qual é feito um relato das imagens encontradas ao longo da referida cidade. Poderíamos dizer que trata-se de uma fotografia da realidade, mas o ser poeta não se comporta  como um fotógrafo, pois um escritor assim adjetivado deve agir de forma impessoal, não tendo autonomia para expor a sua opinião.

Ao contrário, conduz Cesário Verde a projetar-se nas coisas, no mais prosaico da vida cotidiana, em busca de apreender a imagem fugaz do mundo em permanente dinamismo. É a poesia do cotidiano, do atual, do trivial, desobediente a qualquer escala de nobreza artística. (MOISÉS, 1984, p. 181)

Esse poema é dividido em quatro partes: I-Ave Marias; II-Noite Fechada; III- Ao gás e IV-Horas Mortas. A caminhada tem início na parte I da obra. Nesse momento somos situados no entardecer e o aspecto religioso, que é bastante forte em Portugal, é evocado; onde especificamente as pessoas de tradição católica se voltam a um momento de oração.
Na 1ª estrofe o eu lírico nos fala sobre o anoitecer em sua cidade e nos toca com a entediante experiência de viver em tal lugar. A propósito observemos os versos seguintes:

Nas nossas ruas, ao anoitecer,
Há tal soturnidade, há tal melancolia,
Que as sombras, o bulício, o Tejo, a maresia
Despertam-me um desejo absurdo de sofrer
            (MOISÉS,  2006. P. 336)


A sensação de isolamento é perceptível quando o poeta compara as nossas moradas a gaiolas, evocando assim a ideia de que, na maioria das vezes, somos pássaros aprisionados em moldes pré-estabelecidos. O ser poeta se espanta com o aprisionamento de uma cidade em processo de “cimentalização”, sentindo-se preso num ambiente sufocante e doentio. A propósito vejamos os versos que seguem:
Semelham-se a gaiolas, com viveiros,
As edificações somente emadeiradas:
Como morcegos, ao cair das badaladas,
Saltam de viga em viga os mestres carpinteiros. 
                 (Idem, p. 336)

Ainda na parte I, o ser poeta cita características dos portugueses, tais como: tentar conquistar novas terras, desbravar novos lugares. Mais a frente o eu lírico evoca as aventuras vividas por “heróis portugueses” e fala sobre as navegações. Chega até mesmo a citar a atitude de Camões ao salvar a maior obra épica do povo português: Os Lusíadas. A propósito, observemos os versos seguintes:

E evoco, então, as crônicas navais:
Mouros, baixéis, heróis, tudo ressuscitado!
Luta Camões no Sul, salvando um livro a nado!
Singram soberbas naus que eu não verei jamais! 
                (Idem, p.337)

Ao contemplar pessoas partindo rumo a outros países, o eu lírico lamenta não poder partir junto com elas e deixa vestígios do desenvolvimento indutrial, conforme os versos a seguir:
Batem os carros de aluguer, ao fundo,
Levando à via férrea os que se vão. Felizes!
Ocorrem-me em revista exposições, países:
Madri, Paris, Berlim, S. Petersburgo, o mundo! 
            (Idem, p.336)

Em alguns momentos surgem indícios do Naturalismo presente na poesia Realista, e por várias vezes contemplamos a condição na qual os indivíduos ali sobrevivem, conforme os versos seguintes:

Descalças! Nas descargas de carvão,
Desde manhã à noite, a borda das fragatas;
E apinham-se num bairro aonde miam gatas,
E o peixe podre gera os focos de infecção! 
                  (Idem, p.337)

Ao longo da leitura do poema percebemos que por várias vezes Cesário Verde fala do mundo feminino, descrevendo diversos tipos de mulheres e os ambientes nos quais elas vivem/trabalham. São mães, castíssimas esposas, mulheres impuras, crianças, velhinhas, costureiras, coristas, carvoeiras... Então Cesário adota uma postura lírica para algo que está diante dos nossos olhos, mas que já se banalizou, conforme o comentário de Massaud Moisés:

Lirismo dum repórter, mas dum repórter atraído pela cidade, sensível a todas as suas pulsações, inclusive as nauseantes, disformes ou repugnantes. Ou, por outro, lirismo realista, porém não fotográfico nem frio: o poeta emociona-se, e muito, e é sua emoção perante o real cotidiano que procura transmitir ao leitor. 
(MOISÉS, 2010, p. 341)

O poeta nos alerta quanto a instabilidade da nossa condição social, pois se depara com alguém que outrora fora seu professor de Latim e agora encontra-se vagando pelas ruas de Lisboa a pedir esmolas.
Dó da miséria! ... Compaixão de mim!...
E, nas esquinas, calvo, eterno, sem repouso,
Pede-me sempre esmola um homenzinho idoso,
Meu velho professor nas aulas de Latim!  
                             (Idem, p. 340)

Fica explícito que o poema “O sentimento dum Ocidental”, de Cesário Verde, mesmo tendo sido escrito há tantos anos, não perdeu a sua sincronicidade e se faz atual ante a condição humana. E o que mais importa é que o cotidiano é poético e a poesia pode ser cotidiana, lembrando que esta deve cumprir a sua missão, mesmo que não cause deleite, mas que seja capaz de provocar o deslumbre.

Patricia Vilela

(*) Patrícia Vilela das Neves: discente do 5º período do Curso de Licenciatura em Letras da Universidade de Pernambuco-UPE/Campus Garanhuns. Resenha crítica apresentada em 25 de outubro de 2012, na disciplina Literatura Portuguesa II.

Referências
MOISÉS, Massaud. Presença da literatura portuguesa: Romantismo, Realismo. 6 ed. São Paulo, SP: Difel, 1984.
______. A literatura portuguesa. 31 ed. São Paulo: Cultrix, 2001.
______. A literatura portuguesa através dos textos. 32 ed. São Paulo: Cultrix, 2010.